segunda-feira, 15 de junho de 2009

"Na despedida eu sorri..."

Dizem que o inferno está cheio de bons conselhos e boas intenções. Quando voltar de lá, acho que poderei dar uma resposta definitiva.
Eu tenho um bom conselho: nunca confie à alguém o destino da sua felicidade. Nunca, jamais, exija de outra pessoa que olhe por alguém que ama. Não confie na imprevisibilidade. Esse mundo é previsível o suficiente para ficar cada vez pior; para atrair esforços em vão.
Apesar do que minhas palavras possam parecer, não estou com raiva. Acho que ultimamente não tenho tido tempo nem pra isso. Mais uma batalha está para terminar, e enquanto o exército inimigo está deixando a minha cidadela, eu dessa vez me debruço sobre o cálculo das perdas.
Digamos que certas batalhas também devem ser perdidas. Certos caminhos é preciso trilhar sozinho, "e as vezes é preciso realmente fazer a coisa certa, não é?".
Aprender é isso, no fim das contas. Não importa se perdemos a batalha, mas como a derrota nos influencia e como mudamos por causa dela. Perder, de uma forma tanto irônica, é vencer.
Perdi a chance de ser mais verdadeiramente humano, mas ao mesmo tempo tenho agora a oportunidade de mostrar aquilo que tenho de mais verdadeiro em mim, seja como eu for. De tudo o que passou, eu sei sozinho que nada nesse mundo vai me trazer de volta o mesmo combate, para que eu possa travá-lo denovo. Travá-lo de novo, pensando mais profundamente, não valeria à pena. As noites sozinho num terraço procurando por estrelas cadentes rodeadas de balões meteorológicos, a noite de uma festa perdida no tempo. O dia em que eu vi motivos para o mundo existir. Mas, dessa vez, na despedida eu sorri...
Eu só tenho um coração, que só me deixaram testar uma vez. Ele não passou no teste, e eu acabei devolvendo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

As Loucas Aventuras do Homem-Robô

O tempo seco da cidade, o frio, e a eterna acompanhante: a preguiça. Essas são as coisas que têm dificultado meu trabalho ultimamente. Não importa o quanto eu me esforce durante o período, o final dele é sempre assim. Muitas provas e pouco ânimo.
Como todo bom mês de junho, eu fico mais sozinho do que de costume.
Evito conversas, evito contatos, e duplico meu horário de estudo por causa das provas.
Me dá gosto atravessar a reta da UFV, quase à meia noite, sem ninguém de um lado ao outro. Me dá uma sensação de que tudo é meu, e que não há ninguém no mundo para me ouvir resmungar sobre a vida que eu tive, e que deixei ir embora por um capricho, para viver, como eu já disse em algum momento, um clichê do mal.
"Homens que viveram muito tempo de um grande amor e depois foram privados dele cansam-se, às vezes, se sua nobreza solitária. Aproximam-se humildemente da vida e de um amor medíocre fazem a sua felicidade." Eu, por outro lado, continuo na fase da solicitude silenciosa, do saber sozinho, ainda não encontrei um amor medíocre. E me surpreende ver algumas luzes acesas em alguns apartamentos quando eu volto, onde alguém, que deveria estar dormindo, não está.
Queria poder ser o único a experimentar a madrugada, o frio leve do saber insensato que ela me proporciona. Congelar o que me restou de humano.
Nesse ambiente, toda a minha dúvida desaparece, e é quase como se tudo fizesse sentido: devolver uma vida ao seu dono, me esquecendo de que era a única que eu tinha. Espero que ele a aproveite. Tenho certeza de que vou queimar no inferno.
Talvez me sentir em casa...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A Responsabilidade Aceita (parte 2)

"Exatamente 18 minutos depois, lá estava ele. Tinha levado mais tempo do que o necessário, porque não foi em linha reta - foi em ziguezague, pensando no caminho que estava voltando a não gostar do lugar. Mas uma vez que tivesse se responsabilizado em ir, era lá que ele devia estar. Devia.
Estava tudo certo. A 'amiga da irmã' gostava dele, ele não tinha nada a perder. Tudo correria bem. Os dois então, ficaram sozinhos. Mas tudo o que ele conseguia pensar era naquela moça que estava naquela escadaria, e das amigas distraídas e atrasadas que ela tinha. Por mais que ele estivesse ali, com uma pessoa maravilhosa que gostava dele, não era ali que ele queria estar. Essa era a verdade. Essa era a sua verdadeira responsabilidade aceita. Estar ao lado de uma menina, completamente desinteressada, na escadaria de uma cidade pequena, perdida em algum lugar do mundo.
Aquele cara saiu de onde estava, mas simplesmente não conseguiu voltar à escadaria. Ela, de fato, jamais tornaria a vê-lo naquela noite.
Ele voltou pra casa. Já não gostava do lugar, denovo.
Seus amigos chegaram de madrugada, quando já estava dormindo. Haviam combinado de dormir na casa dele. E não era preciso mais nada quando no outro dia, seu amigo de infância o acordou, e lhe disse que a menina tinha ficado naquela escadaria a noite toda, sozinha.
Ele prometeu nunca mais sair de perto dela."
Weaver me disse que se lembrava do rapaz que tinha lhe contado essa história. Era um rapaz fascinante, que tinha perdido o gosto pela vida, mas que tinha uma responsabilidade aceita. Uma responsabilidade que, quando Weaver me mandou aquele email, eu estava pronto para abandonar. E Weaver, nessa única vez, me disse: "Enquanto aquele rapaz carregar essa responsabilidade para com ela, por causa disso ela terá um diferencial, ela carregará um destino que a tornará especial. Ela será a única coisa capaz de fazê-lo agir sem a sua lógica. Mas uma vez que ele a deixe ir, voar com as próprias asas, ela se tornará uma pessoa igual a todas as outras, terá uma vida e vai aprender da forma mais difícil o quanto ter o controle exige responsabilidade."
Aquele rapaz, então, mesmo duvidando um pouco, deixou ela ir, e abandonou a única responsabilidade aceita que realmente teve. E onde quer que Weaver esteja agora, mesmo depois de morto, deve estar rindo da cara dele e dizendo: "Eu disse, não disse?".
Você disse, Weaver. Eu sei que você disse...
Feliz aniversário.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A Responsabilidade Aceita (parte 1)

Não escrevo no mês de maio, pois para mim é um mês sagrado.
Se estivesse vivo, Weaver teria feito 17 anos no último dia 13. Gosto de passar o mês me lembrando das coisas pelas quais ele me ajudou a passar. E numa dessas lembranças me veio uma história que ele me contou, há mais ou menos três anos. A história de um cara, e de como ele descobriu uma responsabilidade que ninguém lhe disse que tinha. E essa é a história que eu vou contar, mais ou menos como ele me contou por e-mail:
"Um sujeito muito especial que eu conhecia estava num festival, desses de cidade pequena. Todo ano tinha aquela barulheira com música e bebida, que ele, pra dizer a verdade, não gostava muito. Estavam ele e mais dois amigos, entre eles um era seu primo. O outro era um velho amigo de infância. Eles andavam em meio à multidão, e conversavam a mesma conversa de sempre, quando ele viu uma conhecida sentada numa escadaria. Ela parecia sozinha e ele, então, resolveu se aproximar. Os seus amigos ficaram esperando ele voltar, enquanto ele sentava ao lado dela. De fato, estava sozinha, mas estava esperando suas amigas chegarem. Perfeitamente normal.
O cara voltou para os seus dois companheiros, e disse que faria companhia à moça por mais um tempo - até que suas amigas chegassem. Não havia nenhum mal naquilo. Eles se separaram, e lá estava ele. Quase pareceu um ser humano conversando com ela, e quase se esqueceu de que não gostava nenhum pouco daquele tipo de lugar. Ela era, no final das contas, a sua 'kriptonita', aquilo que o tornava excepcionalmente normal, uma pessoa exatamente igual a todas as outras.
Isso foi até a irmã dela aparecer.
A irmã dela o conhecia na escola, para onde ele tinha se mudado naquele ano. A irmã o chamou, e ele foi. E disse pra ele, então, que uma amiga dela estava realmente interessada nele, e que o encontraria do outro lado do parque, se ele quizesse.
Ele pensou bem, olhou para aquela moça na escadaria, e se voltou para a irmã dela. 'Estarei lá em cinco minutos.' A irmã foi embora. Ele deu uma ida até a escadaria, e disse a única frase que eu me lembro exatamente nessa história:
'Acho que você não vai me ver denovo hoje.'
Depois disso tomou seu rumo."
Amanhã eu conto como essa história termina, o que aconteceu longe daquelas escadas, e talvez tentar explicar o título dessa postagem. O que posso dizer por enquanto é que ele levou 18 minutos para chegar do outro lado daquele parque...