domingo, 18 de outubro de 2009

Um Menino de Doze Anos

Eu me lembro bem que era sábado.
Acordei meio indisposto, e com uma caneca de porcelana de chá, fui pra minha varanda, sentar no meu banco e tentar botar a cabeça no lugar pra começar mais um dia. Olhar em volta, quase sempre, faz bem. Você quase se esquece de que as coisas não estão ali só porquê você quer.
Na minha vista, naquele dia, havia uma gincana - dessas de escola do ensino fundamental. Como não tinha nada melhor pra fazer, fiquei ali, por um instante, assistindo uma corrida de meninos de doze anos. Com a corrida já no fim, eles pareciam cansados, e um deles estava ficando pra trás. Ele cai. Provavelmente esfolou um joelho no concreto. Provavelmente aquela teria sido a hora de ficar no chão - de esperar que um pai ou uma professora venha levantá-lo. De lamentar. Eu baixei a cabeça, e sorri pra mim mesmo: o mundo não pode ser mesmo perfeito.
Quando levantei a cabeça, ele levantou, bravo comigo. Ele levantou e continuou correndo, mesmo quando já não havia motivo, mesmo quando já não havia esperança. E enquanto todos os seus colegas cruzavam a linha de chegada e punham as mãos entre os joelhos, cansados, aquele garoto chegou em último, mas correu além daqueles pobres vencedores - correu até um muro de pedra no final da pista, para longe das comemorações. Aquele muro era sua vitória. Naquele muro ele tinha chegado primeiro.
Nele já não havia raiva, não havia lamento - havia a conciência do dever cumprido para consigo mesmo - a vitória que se consegue para que ninguém veja. Nesse momento, ele olhou pra mim denovo, e eu o aprovei com um sorriso.
Ele sabia, de certa forma, que nós estavamos ligados por um objetivo em comum: lutar por coisas que ninguém compreende, ainda que sem motivo, sem esperança.
E eu, naquele momento, estava caido com os joelhos esfolados, e aqueles olhos de um menino de doze anos me convenceram a me levantar e correr.
Eu levantei e corri.