quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Centros de Convergência

Vencemos mais um ano, e essa é finalmente a última postagem de 2010.
Geralmente é nessa época que encontramos os momentos que concentram a maior importância, aqueles pelos quais lutamos durante os últimos (quase) 365 dias. Eu posso dizer que, pra mim, esse finzinho de 2010 possui uma importância ainda maior, já que nesses últimos dias, e nos próximos dias, estão concentrados os momentos pelos quais eu lutei há cinco anos.
Eu finalmente parei pra pensar, esses dias, que encontrei meu centro de convergência, o nó essencial onde todos os caminhos se interligam. Nessa atmosfera de calor e otimismo, vou fazer as últimas matérias do meu curso de Física na UFV, vou consertar os últimos erros que ainda faltam, e muito em breve, espero, essa Guerra deve finalmente terminar - meu exílio se torna de minha escola em minha felicidade. Acho que é isso que importa, pra qualquer pessoa do mundo: encontrar aquilo pelo qual se luta sem saber, e sem esperar. É ver as coisas começarem a dar certo, ver o grande sistema do mundo começar a nos recompensar pelos nossos esforços. No meu caso, devo dizer, o mundo não precisou mudar - eu precisei.
E tudo consiste em encontrarmos nossos centros de convergência, a meta que traçamos em tempos longínquos. Foi só durante esse ano que eu aprendi como se deve fazer isso. Deixei grande parte da minha insegurança de lado, me preocupei em descobrir o que as pessoas tem a me oferecer e o que elas realmente são, ao invés de simplesmente bolar inúmeras teorias sobre o que está acontecendo lá fora, longe dos meus olhos. Em seguida, vem a parte mais difícil: me permitir ter aquilo que eu quero. Se eu vou levar uma lição preciosa desse ano, é essa: Devemos lutar por aquilo que queremos - não vale a pena ter nada sem esforço.
Então fica aqui a minha recomendação, para os desavisados da passagem da data, que com certeza verei denovo quando os números mudarem: "Muito daquilo que acontece não pode ser revertido, e isso é suficiente pra que a gente perca muita coisa, suficiente pra que a gente fique pelo caminho em certos objetivos. Só que apenas ações são capazes de reverter ações. Um dia após o outro, seja ele no início, no meio ou no fim do ano, nossos sonhos voltam pra casa, chegam aos nossos centros de convergência; é só não esquecer deles. É só lutar por eles."
Boas festas.

sábado, 18 de dezembro de 2010

"Ele vai lutar pela sua confiança."

Dizem que confiança não se compra, se conquista. Isso, a meu ver, é bem verdade.
Se bem que devo ressaltar que confiança é algo muito relativo. Em grande parte das nossas ações, a gente não pensa muito nisso. Normalmente a confiança que passamos é algo automático, com o qual não nos importamos até o momento em que falhamos. É como o seu dedo mindinho, do qual você só lembra quando dói. Enfim, confiança sempre foi um problema pra muita gente que eu conheci, eu mesmo já deixei claro que não sou confiável com alguns compromissos, e muitas vezes as pessoas têm que me cobrar as coisas. Mas a confiança que eu considero mais importante não é aquela sobre atos, é sobre as palavras. Pois veja, qualquer pessoa pode falar qualquer coisa, mas atos são imutáveis, irreversíveis e irrevogáveis - eles são a essência do que são.
Confiar no que uma pessoa faz é muito fácil, mas compreender que o que ela diz é aquilo que corresponde à sua verdade, é aquilo na qual ela se inspira para suas ações, é um exercício que exite prática, tempo, e principalmente, um registro intocável. É um teto de vidro, que é substituido por uma laje de cimento assim que a primeira pedra cai.
Tem gente por aí que não confia muito em mim, embora já tenham confiado. Mas além de dar toda razão, eu busco cada vez mais uma forma de ganhar essa confiança novamente. Ninguém pode evitar cometer atos desastrosos, que corrompem e destróem laços tão frágeis, por trás das montanhas que construirmos para nos protejer de tudo o que tem por aí, mas eu acredito que sempre há tempo para retomar um elo perdido.
Hoje em dia os laços verdadeiros são tão raros, não podemos nos dar ao luxo de perdê-los. Mais do que nunca, creio que todo sacrifício vale à pena.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A Paz Acabou

Novembro costuma se um mês doído para a maioria dos estudantes de Física do planeta. Se você me acompanha e não faz Física, sinta-se um afortunado nesse mês. Todas as suas obrigações mais importantes se concentram num mísero intervalo de trinta dias, e isso é tudo o que você tem.
Novembro também é o mês das chuvas eternas, daquelas que ainda não são rápidas como as de verão, e se estendem com facilidade pela tarde inteira. Vou contar, então, uma história de novembro. Há quem lembre que faz um ano que estou vivendo nas nuvens, numa nova realidade meio que enfiada garganta abaixo. Ás vezes, no fundo no fundo, eu sinto saudade de voltar a reta da UFV sozinho, e vendo a árvore de natal sendo posta boiando na lagoa, ano após ano; naquele velho tempo em que sempre tinha alguém pra eu xingar, que eu não xingava.
No penúltimo mês do ano passado, eu não tinha tempo pra nada (isso não mudou muito), e nem era tanto a chuva que me segurava no departamento de Física, mas os exercícios. Mas, naquela época, eu ainda recebia visitas frequentes (uma por mês, aliás) de uma grande amiga, com quem dividia algumas experiências de aprendizado, e com quem, às vezes, me irritava profundamente. Era tudo, na verdade, parte do aprendizado. A gente tem que aprender a se irritar com os outros.
Um dia estávamos nós, voltando pela reta da UFV, e nos deparamos com um pessoal oferecendo cartões de crédito, se eu não me engano, do Itaú. Naquela época, isso era muito comum. Como de costume, aquela pessoa te aborda com um sorriso de orelha a orelha, e te pede pra preencher um cadastro. Eu olhei bem pra pessoa, abri um sorriso desgraçadamente grande e disse que já tinha o cartão, que era ótimo, e que ela também deveria fazer um. A conversa mudou completamente de lado, e por uns 30 segundos, era eu quem estava vendendo um produto que não tinha. Obviamente não fiquei muito tempo ali, tinha mais o que fazer.
Aquela foi a primeira vez que usei meus poderes para o mal. Ela me lembra disso até hoje, e eu me lembro do mês de novembro como o mês em que minha Guerra começou a terminar.
Está terminando até hoje.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Aproveitando a Invisibilidade

Não estar em lugar nenhum é um privilégio que todos deviam ter em algum momento. É quando você olha pro lado e sabe que, se você fizer qualquer coisa inexperada, ninguém jamais vai ficar sabendo. Não que você esteja sozinho, mas apenas rodeado de desconhecidos. Desconhecidos que não se importam.
Essa semana choveu muito, e quando eu digo chover, não quero dizer só aquela água que cai do céu de repente e molha todo mundo, pra depois deixar o sol torrar o que sobrou. Eu quero dizer também que choveram críticas profundas e precisas a mim, e isso foi um salto gigantesco para o meu amadurecimento. Eu podia citar algumas aqui, mas vou me concentrar na mais importante: descobri que tenho medo de perder.
Provavelmente já ouviram falar em alguém que é mau perdedor. Pois é, não é esse meu problema. Meu problema é que eu não entro numa luta onde tenho dúvidas. Nunca realmente tentei alguma coisa por instinto. Eu sou um bom perdedor, só não gosto de ser.
Isso veio completar o "você não luta por aquilo que quer" na minha galeria de coisas a mudar, como se um se somasse ao outro. Mas como eu posso mudar isso? Daí é que veio a idéia que deu título a essa postagem.
Aproveitar a invisibilidade.
Não estar em lugar nenhum significa poder arriscar nada, e não ganhar nada. Significa que, o teste final é apenas se eu arrisco ou não, sem essa de erro e acerto, e isso é tudo o que eu preciso agora. Aprender a arriscar algumas coisas que não tenho certeza absoluta se darão certo, coisas que, por si só, não significam nada. Depois chegará a hora de mudar para aquilo que realmente importa, e eu vou lutar por aquilo que eu quero, sem medo de perder.
"Se você não faz nada pra mudar, de que adianta receber crítica?"
Algumas pessoas continuam a me surpreender por sua maturidade.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Os Cavaleiros da Távola Redonda

Tenho estado muito apertado nos estudos nesse último mês do período. Tranquilidade demais nos meses precedentes, de certa forma, me indicaram isso. E mais uma vez, eu me retirei do exílio para estudar um pouco sozinho. Terça-feira de Finados, então, fica sendo meu dia de voltar pra casa e tirar dúvidas.
Mas nessa segunda-feira, ocorreu que recebi um telefonema de um amigo muito querido, da época da escola, e nos reunímos, eu e mais dois, para falarmos do passado. Sentados num bar, seis anos depois, e tentados a perceber o quanto não havíamos mudado tanto assim. A maioria de nós vive na expectativa da mudança, mas talvez não querendo que ela venha.
Na terça-feira eu acordei, e aquele encontro ficou na minha cabeça. Eu me lembrei, por um breve momento, o quanto a minha visão, seis anos atrás, era limitada. Percebi que a grande bifurcação na estrada, que havia mencionado ser há cindo anos, agora está a seis, e eu ainda não a compreendi completamente; talvez porque ainda não compreendi a mim mesmo naquele tempo. Eu sempre fui uma pessoa muito difícil de entender, e isso eu admito.
Mas às vezes dá vontade de fazer tanta coisa, de retomar coisas perdidas das quais sinto tanta falta... Eu sinto falta de um monte de coisa que não vai voltar, mas queria que uma em especial voltasse, uma que o meu Tratado de Tordesilhas, que divide minha vida em duas, já havia me alertado a respeito. Mas aí eu lembro da chuva, fora da marquise onde a gente sentou, lembro daqueles dois caras com quem dividi minha vida por um tempo, e lembro de todas as dificuldades que teria de superar a princípio, e percebo o trabalho que ainda tenho pela frente. Aqui e agora talvez não sejam a hora e o lugar.
Mas aquele dia ficou pra trás e nós voltamos às nossas vidas. Estudar virou minha prioridade por um bom tempo agora, e mais tarde eu devo pensar mais um pouco nisso. Não tenho tanta pressa em aprender. Acho que, afinal, esse sempre foi o meu segredo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dos que Previam o Futuro

A melhor maneira de se prever o futuro é inventá-lo.
Isso é, de certa maneira, algo que pessoas que acreditam no destino jamais imaginam. A grande justificativa pra isso é: pessoas que acreditam no destino tendem a não precisar prever o futuro, pois tudo o que deve acontecer é o que vai acontecer, e elas simplesmente esperam que seus esforços sejam recompensados.
Mas existem aqueles que inventam, aqueles que demonstram a capacidade de tramar, de perseguir. Geralmente são pessoas acostumadas a subir montanhas e esfolar os joelhos. Conheci pessoas muito especiais na minha vida, algumas nem estão mais comigo, mas gosto de me lembrar delas. Se havia algo que todas tinham em comum, era a sua capacidade de prever o futuro. Embora com discursos bem diferentes, todos me diziam aquilo que ía acontecer, se eu fizesse isso ou aquilo.
Uma costumava ouvir os sonhos que eu tinha, quando dormia mais de dez horas, e dizia quase sempre que eram só bobagem, mas que eu deveria escrever uma história sobre isso. Sonhos, na maioria das vezes, são bobagens de onde a gente pode tirar algum proveito. Era interessante ver que ela não sabia tanto sobre o próprio futuro quanto sabia sobre o meu. Mesmo nas pessoas mais sábias existe o medo de falhar, e isso as torna, muitas vezes, mas suscetíveis ao erro quando resolvem tentar. Já tive uma versão piorada dessa doença, mas não mais.
O outro sabia tudo - do seu futuro mais do que qualquer pessoa, e do meu. Um navio não consegue levantar âncora sozinho, um capitão deve ordenar. O navio não sabe a hora de partir. Ele costumava dizer que a gente gosta de muita coisa, mas por isso escolher apenas uma, e deixar a outras pra trás, não é uma tarefa fácil. Ele era o meu "futuro alternativo" (Ver: Dois futuros), aquele que pelo menos me mostrava como eu seria se continuasse preso a certas idéias, se não tivesse buscado algo mais, e principalmente, se eu não tivesse buscado a purificação do exílio. Às vezes, havemos de concordar, uma imagem vale mais que mil palavras. Ele era a minha imagem.
Eles eram as minhas imagens, e eu ía até eles de vez em quando, me abrigar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sol Vermelho

Fazendo as minhas contas, percebi que já viajei de ônibus o suficiente para ir de Viçosa à Nova York, nesses últimos quatro anos.
E saber que viajei tanto assim me fez lembrar do tempo que eu passo nas rodoviárias. A minha ficha geralmente cai enquanto eu espero um ônibus chegar. Depois de tanto tempo, haverão de concordar, se pega a prática de se arrumar algo pra fazer, enquanto se espera. Depois de tanto tempo, isso passou a fazer parte de mim: encontrar inspiração pra viver, na expectativa que uma rodoviária proporciona. A certeza de que se está prestes a mudar de ares novamente.
Hoje em dia, o sol fica avermelhado no fim da tarde. Isso, além de meio anormal, nos dá a impressão de tempo seco e calor. Sob um sol avermelhado, se pondo no horizonte, fui comprar minha passagem de volta. De volta para algum lugar. E enquanto eu ía a caminho do guichê, me lembrava de Nova York, e me lembrava que, embora fossem ídas e voltas, cada passagem me levava pra longe de um lugar comum. Embora durante cada uma dessas ídas e voltas que me fizeram um homem da estrada, eu nunca tivesse saído de uma pequena região de Minas, a cada giro da roda que me leva eu vou me afastando; vou me afastando de uma idéia. Agora eu estou tão longe dela quanto Nova York está de Viçosa. E eu lhe mando um beijo, que deve chegar amanhã. Ele vem do outro lado do mundo.
Essa distância tem ganhado, com o tempo, uma grande importância pra mim, e por mais que uma simples idéia não possa causar nenhum mal, sempre tive medo de agir. Se houvesse algo de humano em mim, quando ía para o guichê e via o ônibus certo saíndo da rodoviária, para onde eu deveria ir, só que sem mim, eu deveria ter corrido, tê-lo pego, e adicionado mais alguns quilômetros pra longe de Viçosa, só que pra mais perto daquela velha idéia. Sorte minha não ser tão humano, e não ser essa a minha maneira de lidar com essas questões.
Eu passei a entender que cada um tem seus próprios problemas, e sua maneira de lidar com eles. Eu talvez seja a pessoa mais estragada que eu conheço, mas também sou a que mais viajou.

sábado, 18 de setembro de 2010

O Sermão

Eram umas dez da manhã, e lá vou eu, saindo da escola onde acompanho as aulas, como estagiário. Como nosso supervisor gostava de dizer, nossa presença mudava um pouco a rotina da escola. Eu sempre imaginei que teríamos uma influência positiva nos alunos, e me esforço para que isso aconteça.
Nesse dia eu não passei em casa, como sempre faço antes de ir pra UFV. Fui direto, mas antes tive que passar numa copiadora pra pegar mais uma lista de exercícios. É aí que começa a minha história. Quatro páginas impressas depois, vem a pergunta "Quer que embrulhe num plástico?". Normalmente eu não faço isso, mas dessa vez, na última hora, "Pode sim.". Com as folhas embrulhadas, continuo o caminho, e, passando perto de um lava-jato, espirra água em todo o plástico que envolvia as cópias. Eu e as folhas estávamos intactos.
Moral da história: Ainda bem que eu peguei a porcaria de um embrulho de plástico na copiadora. Assim, enquanto o plástico secava pelo Sol forte, e pelo tempo seco daquele dia, eu ía pensando comigo. Alguém há de achar que existe algo sobrenatural sobre muitas coincidencias, e que o bem acontece com as pessoas que praticam o bem. Mas, ao longo da minha vida, tenho recebido algumas evidências do contrário. Enfim, você se lembra de, em algum momento, ter colhido algo que, no fundo, não plantou? O impulso de que precisamos varia muito de pessoa pra pessoa, mas no fim é isso: a gente só pode ter aquilo que se permite. Não existe essa de merecimento, existe chance, atenção e consequência - busca e conquista.
Nesse ritmo eu continuava caminhando pela reta da UFV, o que em tempos remotos eu fazia de madrugada, e tudo aquilo que eu achava que merecia foi desaparecendo. Tudo o que eu esperei, até hoje, não aconteceu. Tudo aquilo o que sonhei, ainda não se tornou realidade, pois ainda não lutei por isso.
"Ela se foi, e disse que eu não luto por aquilo que eu quero". Acho que finalmente entendi; o sermão valeu à pena. Desaparecidos ainda continuam desaparecidos...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ao Inesperado

Eu parei esses dias pra pensar em muita coisa. A maioria delas não tem nada a ver com meu momento atual. Decidi, pela primeira vez, pensar no futuro. Vou dizer a impressão que tive.
É como você entrar no supermercado, com uma lista de compras, sem saber quanto as coisas vão custar, e com pouco dinheiro. Já lá dentro, então, você ainda assim sai pegando tudo, sai correndo atrás de tudo de uma vez, e não se preocupa se o seu dinheiro é suficiente ou não. De repente, na fila do caixa, você olha a sua carteira.
Ontem eu fui olhar minha carteira, cheio de coisas na mão, e sem ter como pagar por todas elas. Nesse momento é que vem a pior parte: escolher o que vai devolver para a prateleira, escolher aquilo do qual se privar e pensar naquilo que não vale à pena, aquilo cujo preço é muito alto.
Essa semana estou caminhando de volta às prateleiras, pra devolver algumas coisas, principalmente aquelas que, embora eu queira, vão contra o que eu acredito.
O consolo que isso me trás é saber que, por mais que não quizesse deixar certas coisas pra trás, ninguém pode ficar no supermercado pra sempre. No lado de fora, tudo aquilo que lutamos pra conseguir, tudo aquilo que satisfaz nosso merecimento, se torna nosso. E o nosso dinheiro é a nossa vontade de fazer as coisas, nossa capacidade de nos envolvermos em um objetivo e seguí-lo, sempre por um preço justo; sempre lembrando que não se deve ir contra aquilo que acredita, ainda que seja para ir atrás de algo que deseja. Mas alguns preços caem, e seu desejo ainda pode ser recompensado.
Sou de uma longa linhagem de sobreviventes, e dos amores que tive, e das coisas que estou botando de volta, tudo que tenho a dizer é que algumas mudanças nunca se concretizam. Vou voltar à fila com aquelas nas quais ainda tenho esperança.
Faço isso ouvindo um sermão por dia...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O Campinho

Estive novamente na cidade onde eu cresci.
O frio que estava fazendo fez com que a maioria das pessoas ficasse em casa, no Domingo. E durante alguns instantes, eu passeei pelas ruas daquela cidade, e talvez não fosse pedir demais que o tempo voltasse alguns anos, e eu pudesse refazer certas coisas, ou rever certos acontecimentos que poderiam ser mudados. Ou não.
Mas o caso é que, sempre que você sai por aí, em algum momento você volta pra casa. Perto da minha casa tem um campinho de futebol. Cheguei com a bicicleta no portão de casa, e de lá só dava pra ver um dos gols, onde um menino de uns dez anos observava a partida. E me lembrava de quando era eu quem estava ali, naquele mesmo lugar, tantos anos atrás, esfolando meus joelhos por coisas tão momentâneas, e mesmo assim que me davam um prazer imenso. Daquele campinho tantas vezes a gente viu o sol se pôr, e continuava brincando até não dar mais pra ver a bola - às vezes até quinze minutos depois, quando ninguém via mais a bola.
E é isso o que está acontecendo agora, tal como naquele tempo. Eu estou esfolando meus joelhos. Eu percebi, olhando aqueles meninos, que eu não tinha mudado em nada, desde aquela época. Eu me machucava, e sabe-se lá quantas vezes eu troquei a pele da sola do pé, quando voltava pra casa. E quanta roupa suja minha mãe teve que lavar depois de um dia inteiro debaixo de chuva, quando a sujeira parecia se multiplicar. Eu era alguém que esfolava os joelhos, mas não parava pra chorar. Não me sentia, nem por um minuto, incapaz de continuar. Olhando aqueles meus pequenos passados, eu ía me convencendo de que ainda sou assim.
Estou esfolando meus joelhos, e é por uma boa causa.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Esse Blog Me Faz Sorrir!


Queria agradecer a Aline Fernandes pela indicação para o "Este Blog Me Faz Sorrir" no blog dela (\o/ Ahora me toca a mi... ). Fiquei muito feliz. Agora, ao que interessa. Para postar o selo acima, tenho que cumprir certas regras.
Vou dizer nove coisas que, provavelmente, ninguém sabe sobre mim, principalmente os que me conhecem apenas pelas páginas deste blog. Quem me conhece pessoalmente talvez saibam de algumas, mas enfim, vamos nessa:
1. Tenho mania de ficar rasgando panfletos de propaganda ao meio. Quando chego nuns dezesseis pedaços, eu paro.
2. Além de fazer Física e escrever, também sou desenhista.
3. Mesmo no calor, só durmo de meia. Aliás, no frio só tiro a meia pra tomar banho.
4. Não sei mentir, só omitir. Se me fizerem a pergunta certa, já era.
5. Tomate machuca a minha boca.
6. Já desenhei um vestido de noiva.
7. Eu falo sozinho (o que se agrava de madrugada).
8. Nunca tomei ponto, mas já precisei umas cinco vezes.
9. Tenho muitas boas idéias no banheiro.

Agora, vou indicar 9 pessoas para contar, elas também, 9 coisas sobre elas:

1. Raquel Elias - Entre Lágrimas e Pensamentos...
2. Marco Antônio Amaral - Njord's Corner
3. Frodominator - Ensaios de um Hobbit do Futuro
4. Clau - câmbio-desligo !
5. Carlos Alexandre Monteiro - Tudo Está Rodando
6. Liv Brandão - Go To Heaven
7. Mizarela - descascar alho
8. Suzana Elvas - Breviário das Horas
9. Juliana Cunha - Já Matei Por Menos

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Revolta e a Reviravolta

A cidade estava enfumaçada, por causa da quantidade de carros. Alguns fogos de artifício também contribuíram um pouco. Nesse ambiente, lá vou eu para o centro da cidade encontrar uma amiga de longa data, que estava de passagem por Viçosa.
E sentados, na Pastelaria do Chinês, ela me dizia o quanto eu parecia adulto, e as coisas que eu tinha conseguido mudar, desde a última vez que tínhamos nos visto. Não é a primeira vez que eu tenho esse tipo de conversa. Enfim, ali ficamos por um tempo, e ela ia me contando as coisas que deixavam ela revoltada, no emprego que tinha arranjado. Gosto um pouco de ver as pessoas reclamando daquilo que as incomodam, porque isso as define, de certa forma. Aquela conversa me fez refletir mais fundo sobre o que me define. Se além daquilo em que acredito, o que me revolta também faz parte do que eu sou, o que será então?
Percebi que não me revolto com nada. No meio do trânsito que me levou até o centro, no meio da confusão da hora do rush de Viçosa (que garanto ser o inferno), não consegui achar nada particularmente revoltante. A única coisa que me revoltava, em toda a minha história, era a minha própria capacidade de complicar as coisas, em determinados momentos. Era a minha auto-defesa ligada no máximo, em momentos em que ela não era necessária.
Me revoltava saber que meu caso não era perdido, e que embora eu houvesse tentado de todas as maneiras seguir em frente, eu ainda não havia conseguido até aquele dia, até entrar na pastelaria e sentar naquela mesa. Essa sensação de inaptidão para esquecer das coisas me define, por ser o que me revolta. Mas não dizem que, quando não se pode vencer o inimigo, se deve unir-se a ele? As coisas que eu nunca disse, afinal, não vão se dizer sozinhas, ou me esperar pra sempre.
Ela seguiu caminho depois da visita, e eu saí desse "encontro às pressas" com vontade de andar, e olhando em volta comecei a analisar as pessoas novamente. Eu sou assim, não posso evitar... mas dessa vez eu ri de orelha a orelha.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

As Crônicas do Desaparecimento: Sinceridade

Conheci uma moça que sumiu, há algum tempo atrás. Ela ainda não era muito boa nisso. Mesmo assim, ela pegou suas coisas e foi pra longe de seus amigos.
A vida, naquele tempo, era muito boa para ensinar coisas, e ela, então, aprendeu. Aprendeu, em grande parte, a ver as coisas que estão ao seu redor. Aprendeu a ver aquilo que enxergava desde pequena. E durante seu tempo de desaparecida, ela sempre recebia mensagens de saudades, sempre acompanhadas de lembretes de que havia, e sempre haveria, um lugar para onde voltar.
Mas o destino, no seu caso, fez dela uma amante do pedestal onde havia subido, para admirar a paisagem do mundo. E quanto mais ela subia, quanto mais do todo ela via, mais encantada ela ficou por aquela vida. Ela seria capaz de vivê-la para sempre, mas no fundo do seu coração ela sempre guardava aquelas mensagens, aqueles desejos de boas vindas que custavam a vir, aquela celebração de laços incorruptíveis pela distância. Ela viveu algum tempo de sua nobreza solitária, até se rendeu algumas vezes às mensagens, mas em nenhum momento ela mentiu para si mesma. Em nenhum momento sequer ela esteve onde não deveria estar, pagando cada centavo dos preços que cada lugar cobrava.
Hoje ela ainda está sumida, e vive no topo daquele pedestal. Ela vê muito mais quando olha pela janela, e de lá pode ver o lugar de onde saiu - só alguns pequenos borrões, de uma figura da qual antes conhecia cada detalhe. Essa figura faz com que ela se reconheça, mas não faz dela o que ela é. Ela agora se caracteriza por estar distante, e no verso de cada recado de saudade, aprendeu a escrever o motivo de estar longe, o motivo que pode levar todos nós a arriscarmos o esquecimento: ser um pouco mais, sempre.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

As Crônicas do Desaparecimento: Razão

Depois de um tempo, resolvi sumir também. E muita gente sabe que eu sou especialista nisso.
Embora sempre houvesse um lugar para alguém em meu coração, eu havia adquirido a capacidade de tornar esse vazio algo sem significado. As ideias que surgiam à partir desse lugar comum e afastado do meu corpo não se transformavam em ações. A última coisa que eu havia feito, baseado em meus sentimentos, foi sumir. Sumir e deixar o tempo fazer o seu trabalho. Foi quando me perguntaram se eu realmente vivia do jeito que eu queria. Pra mim, naquele tempo, não era questão do que eu queria, era questão de sobrevivência. Se minha parte emocional não podia ter uma vida, então minha vida racional teria. Assim, eu resolvi sumir também.
Enquanto sumi, caminhei muitas vezes na chuva, outras no meio da rua, vazia pela madrugada. Às vezes encontrei pessoas na rua, e passava por elas, com meu segredo no coração. Sabia eu que elas jamais reconheceriam os segredos que esse mundo guarda, nem mesmo o meu, pequeno como era. Eu tinha sumido, e embora elas me enxergassem, elas não me viam.
O grande risco de sumir dessa maneira é que não se sabe, às vezes, a hora certa de voltar. Na grande maioria das vezes, só fazemos isso para que as pessoas sintam nossa falta, mas no fundo temos medo de que elas não sintam. O verdadeiro motivo das pessoas sumirem não é esse. Não é um narcisismo exacerbado, ou a falta de reconhecimento, ou menos ainda a vontade de ficar sozinho. Quem some, sendo verdadeiro consigo mesmo, faz isso por ser a única forma de nos livrarmos dos preconceitos, de nos ligarmos ao mundo e retomarmos nosso cordão umbilical perdido, de subirmos nos pedestais da vida e vermos o todo, perdendo, devagar, os detalhes dos relacionamentos superficiais. Quem some, some porque quer ver, de fora, de onde viemos e o que somos.
"Quanto mais te elevares, verás do todo uma parte cada vez maior, ao ponto que os pormenores se desvanecerão."
Pensando nisso podemos saber, com certeza, quando chega a hora de voltar.

sábado, 7 de agosto de 2010

As Crônicas do Desaparecimento: Impulso

Ela sumiu, e disse que eu não luto por aquilo que eu quero. Isso era um motivo bom o suficiente.
Mas o que eu faço enquanto não sei o que eu quero? O que faço quando eu olho ao redor e não gosto de nada do que vejo? Acho que não querer nada não é o meu pecado, e isso eu descobri em alguns momentos meio cruciais. Se você acredita no infinito, se acredita que o mundo é realmente um lugar muito grande, e que mesmo assim podem haver milhares de outros por aí, então cada atitude sua, cada coisa que você decide fazer nesse mundo é insignificante. Isso quer dizer que o único arrependimento que realmente temos direito de ter é de não ter feito as coisas. Uma vez que se faz, só pode dar certo ou errado, mas ainda assim isso é insignificante. Ainda assim, ela sumiu.
Eu senti na pele, recentemente, que idéias por si só não podem causar mal nenhum, apenas ações. Mas idéias, por si só, também não podem te levar a lugar nenhum, apenas ações. Então dei um tempo pra mim mesmo, e quando acabei, recobrei os sentidos, e decidi fazer um punhado de coisas insignificantes. Ainda assim, ela sumiu.
E nas muitas moradas que visitei, e em tantas outras que não pude, encontrei abrigos tão seguros para certas idéias, e no meio de milhares de alegorias do que minha vida devia ter sido, creio ter encontrado uma que possa recuperar. Ela sumiu, e disse que eu não luto por aquilo que eu quero. Eu não luto por nada que não consiga naturalmente. Eu luto pelo que preciso. Aquela alegoria, aquele oasis de oportunidades e segundas intenções que podem me fazer parecer idiota perante o mundo, mas feliz comigo mesmo, parece me chamar à luta. E por mais que ela tenha sumido, deve estar feliz de saber que eu vou pegar minhas armas denovo, e caminhar para a frente de batalha com a bunda de fora.
Será que é isso mesmo o que eu quero? Se há uma maneira de saber: através de coisas insignificantes.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A Hora do Prazer e a Hora do Dever

Todo mundo tem meia dúzia de obrigações. A maioria delas vêm do dia-a-dia - coisas que algum peixe maior te manda fazer, ou que você tem que fazer pra não morrer. Mas existem, creio que todo mundo acredite, obrigações que vão mais fundo do que isso. Uma obrigação que, no fundo, a gente sente que tem com o mundo exterior; mais como uma contribuição a dar. Eu tenho pensado mais nisso a cada dia. Quantas contribuições eu posso dar ao mundo, ou pelo menos às pessoas próximas...
Eu tenho alguns talentos capazes de ajudá-las, e às vezes isso é tudo o que eu tenho. Em grande parte, eu consigo me aproveitar desses talentos de maneira bem limitada, mas ainda assim tento ser o mais ativo nisso, como por exemplo, mantendo essas postagens. O interessante é que, na maioria das vezes, faço isso para aliviar tensões próprias. O meu grande apoio para fazer as coisas que ainda faço é, no fundo, o fato de eu estar sozinho na maioria do tempo. Eu gosto de ficar sozinho, porque produzo muito. Agora o problema, esse mês prometi um grande sacrifício, um no qual tudo pode acontecer. Uma das coisas que podem acontecer vai, na verdade, me deixar feliz.
Eu vou ficar feliz.
E se tudo realmente der certo, será que vou me lembrar das minhas obrigações? Será que vou me inspirar o suficiente para agir conforme meus desejos? A felicidade acomoda, e isso é um perigo. Um grande homem uma vez me perguntou se eu era feliz. Acho que não. Se eu fosse feliz, não teria motivos para continuar vivendo. Não haveria mais pelo que lutar. Vou acabar sacrificando ou meu prazer, ou meu dever.
Acho, inclusive, que esta guerra se tornou tão minha que não posso suportar que ela termine. Sem ela, corro o risco de perder minha identidade, talvez o que me define como ser humano. Tenho medo, e é medo de ficar feliz.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Discurso da Memória das Coisas Passadas

"Estive pensando nas coisas que aconteceram, e acho que você não me merece. Ao contrário do que possa parecer, não estou dizendo isso por que te acho boa demais pra mim, mas porque me acho ruim demais pra você. Durante muito tempo estive errado, e mesmo nas coisas certas, me enganei, tornando sentimentos maravilhosos em atitudes que não lhes cabiam. É por isso que sou ruim demais pra você.
O meu último presente é de despedida. É pra te dizer que, por um tempo, farei uma viajem para dentro de mim mesmo. Não sei como retornarei dela, ou o que a vida fará conosco enquanto eu estiver fora, mas eu sinceramente não espero encontrá-la exatamente como está, nem peço que me espere. Toda espera é em vão, porque não se chega a lugar nenhum, senão à morte. E por saber que eu vou embora, não tente me perdoar - não faça dessa minha atitude desesperada uma tentativa infantil de ganhar seu perdão. A pessoa que eu sou agora não o merece. A pessoa que eu sou agora não vai embora por ser infantil, mas por ser responsável. O mundo é um lugar muito grande, ele não precisa de nós dois juntos. Precisa que nós façamos o que temos que fazer, do nosso modo, ao seu tempo.
E por saber que eu vou embora, não tente chorar, e me dizer que tenho motivos para ficar. Por mais que seja isso que meu coração deseje, não é disso que ele precisa. Estou indo porque aprendi a diferença entre o que desejo e o que eu preciso. Na nossa despedida, não faça nada que não queira fazer, só porque é uma despedida. Se for preciso, não diga uma palavra, agradeça ao seu coração por me deixar ir, e não espere.
As grandes coisas da vida estão além dos nossos olhos, do outro lado de montanhas invisíveis, e nos pegam de surpresa quando aparecem pela primeira vez. Ou quando voltam."

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Sacrifício

Era domingo, e como há muito tempo não fazia, ao cair da tarde saí de casa pra ir até a padaria. O trajeto de ida é, basicamente, ladeira abaixo.
Lá de cima, sempre que fazia isso, eu costumava fitar o horizonte. Lá de cima dava pra ver as montanhas, lá longe, com gente morando nos bairros mais afastados do meu. Naquele domingo, as luzes das ruas já tinham se acendido, e o inverno mostrava sua presença escurecendo tudo, em plenas cinco e meia da tarde. O céu emitia um delicioso contraste entre o azul se tornando anil, nas partes mais altas, e ali, pertinho do horizonte, uma pequena faixa laranja lembrava o dia que havia se passado. O sol brilhava sobre o Pacífico, e eu via aquelas luzes da cidade, como um eclipse ao longe, me privando dele.
Um sacrifício. Sempre antes de um sacrifício temos a sensação de que ele não valerá a pena. Sempre deixamos para abandonar, no último minuto, a fé de que tudo pode continuar como está. Eu estava assim, prestes a fazer um sacrifício, e vendo pra todo lado os sinais de que ele não valeria a pena. Queria que tudo continuasse como está. Mas aí eu vi aquela faixinha laranja de sol, e me lembrei do Pacífico. Me lembrei que o mundo é um lugar muito grande. De repente, parei de pensar no sacrifício, e nas coisas que eu vou perder se não valer à pena. As coisas que eu devo ganhar me vieram à mente, e talvez elas valham à pena.
E mesmo se der errado, eu ainda tenho um mundo todo pela frente.
Vou fazer um sacrifício, ainda esse mês. E mesmo se der errado ainda valerá a pena.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Disposto a Estar Errado

"Você já fez alguma coisa do qual realmente se arrependeu?"
Essa foi a primeira frase que eu disse a um grande amigo, há alguns dias atrás. Embora em contexto completamente diferente, ela serviu como um quebra gelo, para uma conversa sobre o passado distante: aquele em que tudo era muito fácil de resolver. Mas, enfim, o que é interessante ressaltar é que, dentre todos os sentimentos que eu ainda desejava ter, arrependimento não era um deles. Se você toma decisões, você deve fazer com aquilo que você tem em mente. O que você virá a saber depois, não importa. Mas nesse caso foi bem diferente. O que eu vim a saber depois me destruiu de verdade, e eu acabei levando um bom tempo pra consertar. Muitas guerras sangrentas foram travadas por um coração despedaçado.
Mas, mesmo assim, o tempo passa. O tempo te leva para outros lugares, te dá uma outra vida, e te diz pra seguir em frente, se reerguer, e te mostra que há infinitas possibilidades pra quem tem os olhos abertos. Eu demorei, mas abri meus olhos. Eu encontrei no exílio as vantagens que o tempo proporciona.
E de vez em quando o destino vai me devolver uns quinze minutos da minha antiga vida, me cobrando o preço de me tomar os mesmos quinze minutos da vida que tenho agora. De vez em quando vou me lembrar de como era estar sempre certo, antes de finalmente perceber quantas coisas erradas realmente fiz. É assim a vida: muitas lembranças se perdem, muitos amigos se vão, mas em algum momento você tem que pensar neles, e nesses momentos, acredito, somos um pouco mais felizes. Mais do que tristes.
Naquele tempo eu fui embora, eu arrumei a minha bagagem, disposto a estar errado. E estava.
Aos poucos vou me desculpando...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Ao Mundo Real

Maio foi meu mês de férias. Em maio eu não escrevo.
Durante quase o mês todo, tenho que dizer, dormi mais do que devia. Na maioria das noites em que tive a oportunidade, dormi mais de dez horas, e mesmo durante o dia, estava com sono.
Isso porque, bem no fundo, eu preferia dormir e sonhar. Tive sonhos muito bons, durante o mês inteiro, e sinceramente a vida real acabava ficando meio monótona em alguns aspectos, e eu me via, de vez em quando, pedindo para a noite chegar. Até há alguns dias atrás, isso era comum. O pôr-do-sol me aliviava, me dizia que logo seria possível deixar a realidade para trás, e seguir um caminho novo. Um caminho que não era real.
Mas foram necessários apenas alguns minutos, em um lugar onde, anos atrás, um grande estrago tinha sido feito, e a realidade me chamou de volta. Depois de tanto tempo, em que o mundo dos sonhos era meu milagre, onde tudo acontecia sem acontecer, o meu barco pareceu virar, e eu acordei. Tinha eu feito uma cruzada por terras tão desconhecidas quanto leves, tão receptivas e tão revigorantes, e mesmo assim havia terminado, havia passado, e eu não mais sentia a falta delas.
Foi de volta à estrada, subindo novamente as montanhas para o exílio, que eu me dei conta disso. Foi de volta às minhas muralhas que descobri ter levado a batalha para um terreno onde eu podia vencê-la. Chegou a hora, pela primeira vez, de transformar as idéias do mundo dos sonhos em ações no mundo real. De volta, assim, ao mundo real.

A foto é minha.

domingo, 6 de junho de 2010

Tordesilhas

A postagem de hoje veio depois de muita insistência. Ela é uma transcrição daquilo que divide a minha guerra e paz em duas fases bem distintas: a fase da frieza e da responsabilidade cega, e a fase da descoberta de um mundo completamente novo que merece uma chance.
Foi escrita como selo de um acordo feito por duas pessoas que, estranhamente, tiveram paz de espírito suficiente para exigir da sua vida apenas aquilo o que ela podia oferecer, e não se desapontaram, nem por um minuto. Nem mesmo com suas perdas.
Ela é assim:
"Tento não pensar nisso como uma ausência. Não foi assim que você me ensinou a ver o mundo. 'A gente vive melhor de somas do que de subtrações', lembra? Pois é, agora nosso acordo terminou, e nós fomos bem. Eu ainda não sei onde a gente tava com a cabeça quando resolveu fazer isso. Minha mãe acha engraçado porque ela já meio que notou a diferença em mim. Não sei se você lembra, mas eu acho que falava demais, e pensava de menos. Acho que entender como certas coisas funcionam resolve bastante coisa, mas traz tanto problema, né?
E você? Lembro que não dava valor pra mais nada que não pudesse medir, que não pudesse tocar. Eu quero que as pessoas vejam em você a diferença. Quero que você mostre a elas o que a gente fez, e o quanto você tem a capacidade de ser um pé-no-saco por ser tão inteligente, e ainda assim fazer merda porque quer. Às vezes, você sabe, a gente não tem que fazer a coisa certa mesmo! Tem que fazer o que dá vontade. E talvez você precise se apaixonar denovo, pela mesma pessoa. Ou talvez não... acho que agora você já consegue decidir, pelo menos desencanou de algumas coisas que te preocupavam a um tempo.
Agora não somos os mesmos de quando começamos, e é isso o que significa. Você cumpriu sua parte, e me mostrou o que eu precisava ver. E você pode não achar, mas eu cumpri a minha. Agora você tem um outro mundo, e você se tornou uma pessoa melhor, sem sequer perceber.”

domingo, 11 de abril de 2010

Tudo Beleza.

O frio está chegando e, junto com ele, mais uma batalha.
Enfrentar essa minha guerra, agora, chega a soar estranho pra mim, já que pela primeira vez ela não é a única coisa em minha mente. Meus aldeões já voltaram e os muros estão novamente de pé. Depois de um início de ano conturbado eu pareço finalmente me ajeitar no governo da minha vida, e tenho tudo para continuar firme nas batalhas.
Posso dizer que essa semana finalmente conseguiram me analisar por completo, e andaram me falando umas verdades que eu adoraria compartilhar com todos que acompanham essas aventuras de um clichê do mal: aquilo que a maioria das pessoas fazem para atrair umas às outras não funciona comigo. A maioria das meninas se preocupam muito com a aparência aqui nessa cidade, e isso pra mim não faz absolutamente a menor diferença. Por quê? Pois eu tenho o impressionante "defeito" de ver o que as pessoas fazem primeiro, depois ver o que elas são, ou o que parecem ser. Foi assim com a maioria das pessoas com as quais eu realmente me dei bem: Elas não estavam fazendo algo normal - estavam fazendo algo que as definia profundamente, e nenhuma delas estava particularmente bonita na época (risos). Enfim, isso vai me trazer muitos problemas por morar numa cidade onde praticamente todo mundo liga mais pro que parece ser do que pro que realmente está fazendo, mas enquanto isso funciona para a maioria (e eu quero dizer as outras seis bilhões de pessoas que não são eu), então por mim tudo bem. Eu sei que sempre vou achar uma estranha na multidão fazendo algo tão inóspito que ninguém vai ligar, ninguém vai perceber.
Eu últimamente tenho entendido que a beleza verdadeira está muito bem escondida por esse mundo, e você tem que buscar cada vez mais fundo para encontrá-la. Cada vez mais as pessoas se esforçam para serem homogêneas, e cometem o maravilhoso pecado de estarem no lugar errado, na hora errada, mas com a roupa certa.
Parabéns pra quem consegue a façanha. Eu não consigo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Memória da Tempestade (Parte 4)

Lá estavam eles, na chuva, e olhando para baixo. O menino fraco tocou em seus ombros e lhe disse de sua última responsabilidade: "Aproveite seu tempo, e a veja crescer. Quando isso acontecer, deixe-a ir." Foi isso o que lhe havia dito há tantos meses, e era isso o que ele lhe lembrava agora. O fim estava próximo, mas o lembrava de que um novo começo estava por vir. A cicatriz estava se fechando e o sangue iria parar de escorrer.
O menino, então, andou até o carro. Entrou, e foi levado pela estrada escura. O rapaz ficou ali um segundo, e logo tomou seu caminho.
Dias depois ele traiu aquilo o que mais amava, e cumpriu a parte que era sua na responsabilidade aceita. Ele a deixou ir.
Mas não foi simples, nem para alguém como ele, e os dias que se seguiram não foram nada fáceis. Alguns traumas voltaram, e o sentimento de que alguma coisa precisava ser corrigida passou várias vezes pela sua mente. Mesmo assim, ele não fez nada, ele se recusava a voltar atrás numa decisão que tivesse tomado.
Um ano havia se passado e ele voltou ao lugar onde se despediu do menino fraco. Não havia nada para ser dito, nada para ser escrito, e um acontecimento fantástico havia definido tudo aquilo, quatro anos atrás: graças à memória da tempestade.
À sua direita, pendurado em uma estaca, estava o casaco vermelho. Ele o vestiu, e no bolso da direita havia um pequeno pedaço de papel, onde estava escrito: "Você vai se tornar uma pessoa melhor, e nem vai perceber."
Uma brisa branda começou a cair, e o sol se pôs na cidade, para nascer em outra.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dez

O ônibus balança, e eu estou voltando. Lá fora chove, e de dentro dele dá pra ver os raios. Não me lembro desde quando passei a integrar a parte fácil da equação.
Enfim, estava lá, olhando pra frente, e não conseguia dormir como de costume, e como alguém que não consegue dormir, comecei a pensar. Já vi muita gente perdida no espaço por aí, mas eu acabei me perdendo no tempo, nessa viagem. Não sabia que horas eram, que dia era ou quanto tempo tinha passado fora. A única coisa da qual tinha certeza era de que, seja lá o que eu tenha sido antes, ficou pra trás sem que eu pudesse perceber.
Foi nesse espírito que o ônibus chegou à rodoviária, onde eu desci e fui me sentar, esperando a chuva passar. Eram, nesse momento, 22h20min do dia 21 de março de 2010. Eu havia me localizado, enfim. Não havia táxis, mas pessoas esperando por eles, então fiquei por ali.
Brincando com a alça da mala, olhando para os dois lados, perigosamente sozinho. Digo perigosamente porque minha mente estava, naquele momento, completamente desocupada – e isso é um baita mau sinal. Deu vontade de voltar ao guichê e comprar uma passagem para outro lugar, para tentar ver o que sou capaz de fazer com minha nova forma de ver o mundo. De que serve uma lição se você não pode botá-la em prática? Foi aí que lembrei que já tinha falado disso com alguém. Alguém com quem aprendi muita coisa, mas apenas na sua ausência eu pude realmente pôr em prática. Perto dos nossos mestres nós nunca vamos nos acostumar a saber o que temos que fazer.
Olhei novamente o relógio da rodoviária, e eram 22h30min. Em dez minutos, todo um pensamento me levando de volta ao ônibus chegou e passou. Lá fora, a chuva havia diminuído, e embora ainda pudesse me molhar um pouco, me pus a caminho de casa passando pelas pessoas que ainda esperavam os táxis. Elas, ignorantes, jamais saberão da verdade que acabara de descobrir: Perto dos nossos mestres nós nunca vamos saber o que temos que fazer. Ainda assim, foi bom voltar a ver o vilarejo das pessoas que viram a nossa despedida, aquelas que souberam a diferença entre o amor que sonhamos e o amor que vivemos.
Felizmente acho que elas já foram experimentá-lo.
“Guardar na memória é tudo o que você tem.”

A Memória da Tempestade (Parte 3)

Certas lições são muito mais facilmente aprendidas quando não se conhece o rosto do mestre. Isso impede que haja qualquer preconceito por parte do discípulo. Alguns ensinamentos, no entanto, são muito mais difíceis do que se imagina.
“Existem dois tipos de pessoa no mundo: as que acreditam no que sabem, e as que acreditam no que temem. Cuidado com o tipo de pessoa que quer ser.”
“É muito fácil dizer: ‘Eu tenho um sonho’. Todos têm. O que fará se eu apontar para ele e disser: ‘Comece a agir’?”
Entre coisas para se pensar, o rapaz descobriu uma verdade cruel: seu mestre tinha os dias contados. Não se sabia quando, embora em breve, mas ele iria morrer. O peso da sua responsabilidade idiota já não era nada comparado àquilo - era agora só uma tola mocinha igual a todas as outras. Não adiantaria tentar prepará-la para o mundo sem que ela mesma o enfrentasse. Aquele pequeno mestre, de quase quinze anos, estava fazendo isso em cada dia da sua vida. E o rapaz, lembrando-se do sofrimento de seu mestre, se lembrava da chuva, da noite sob a marquize; de um tempo em que aquilo que morria não havia sequer nascido – de um tempo em que ele ainda não tinha a cicatriz na sobrancelha, e os raios cortavam o céu. Naquela noite havia aprendido o verdadeiro significado do egoísmo: Ele só queria ir pra casa, só queria que a chuva parasse, mas ela não parou. Essa era a verdade maior da sua vida – sempre que se ele tinha um pensamento no mínimo egoísta, o mundo cuidava para que ele fosse arrebatado. Os seus desejos foram, aos poucos, de distanciando de seus objetivos – agora o seu mestre estava morrendo.
No fim do inverno, no último dos anos de seu mestre, o rapaz resolveu subir a montanha, até a rodovia, pela última vez.
Um carro chegou onde ele estava, e um menino fraco desceu, com um casaco vermelho muito maior do que ele. O rapaz havia seguido seus ensinamentos até agora, e finalmente estava pronto para ouvir o último deles. (continua).

segunda-feira, 22 de março de 2010

A Memória da Tempestade (Parte 2)

Não se sabe por que, nem como, mas os anos seguintes não foram tão difíceis quanto se poderia imaginar. Até os quinze anos ele cresceu saudável e bem, acreditando naquilo que havia sempre entendido como certo.
Definir suas responsabilidades pode ajudar a diminuir o peso de certas perdas. Uma velha cicatriz, perto de seu olho, o lembrava dessa importante lição quase que freqüentemente.
Foi no final do inverno, pouco mais de doze anos depois daquela cicatriz ter sido feita, que ele decidiu ser egoísta mais uma vez. Tentou exigir do mundo algo em troca por ter cuidado dele todo esse tempo. Mas, como às vezes acontece, o destino tratou de derrubá-lo, e ele novamente se viu sangrando, dessa vez de um jeito ainda mais irreparável, dessa vez ele tinha uma responsabilidade aceita - uma responsabilidade que ele aceitou sozinho pelos dois anos que se seguiram.
Foi ao fim desses dois anos que o rapaz, pela primeira vez, encontrou seu jovem conselheiro. O bebê que nascia na primeira vez que ele sangrara. Do alto daquela rodovia, longe um do outro, eles falavam sobre a responsabilidade que ele tinha assumido, e dali era possível apontar para ela e dizer: “Aproveite o seu tempo, e a veja crescer. Quando isso acontecer, deixe-a ir.” Ele não via seu mestre, mas confiava nele. Verdadeiros mestres não precisam de rostos, nem de olhares, só de palavras. Então fez o que sabia que tinha que fazer: prepará-la para o mundo.
E todos nesse mundo deveriam saber o que é a falha, pelo menos uma vez. (continua).

quinta-feira, 11 de março de 2010

A Memória da Tempestade (Parte 1)

Há mais ou menos um ano, eu descobri uma das minhas verdades absolutas. E essa verdade que eu descobri, consegui descrever numa postagem intitulada "Na Noite da Chuva". Essa postagem fala sobre um acontecimento fantástico, uma bifurcação na estrada. Depois de quase um ano, e depois de muita coisa ter acontecido, vou contar a história que precisa ser contada.
Não é a história dessa bifurcação, e nem de suas conseqüências. É a história dos fatos que me levaram até ela. Como poesia, perdida no tempo, é hora de falar de um passado realmente distante.
No meio do barulho da chuva caindo, de alguns carros passando, uma família sob a marquize espera a calmaria pra continuar seu caminho. Um pai, uma mãe, uma menina no colo do pai, e um rapazinho, que a mãe segura pela mão. Trovões vão da terra para o céu em frações de segundo, e os olhos do menino parecem brilhar para eles.
Um ano depois, ele veria seu próprio sangue pela primeira vez, e vinha de perto dos olhos, aqueles olhos que já tinham visto tanta coisa... muito além daqueles raios. Naquele dia, nascia uma lenda.
Aquele dia era treze de maio de mil novecentos e noventa e dois. Para duas almas, era o dia um. Mas o dia um não era tão importante ainda.
O primeiro dia realmente importante ocorreu quase dois anos depois. Foi a primeira vez que o menino de sete anos se apaixonou por uma ruivinha de olhos verdes. Foi a primeira vez que tudo o que importava estava fora dele, e foi a primeira vez que aquela tempestade o deixou à própria sorte. Ainda assim, ele achava tempo para tirar as melhores notas da turma. Era a unica coisa que ele realmente fazia pra se divertir naquela época, e era a única coisa que chamava a atenção de quem ele realmente queria.
E o que parece uma eternidade para os homens no cárcere, para ele foi como um facho de luz, de uma estrela distante. E um ano se passou. Ele mudou de turma, e nunca mais viu aqueles cachos novamente. Alguns pensariam que isso era triste, e que, nessa idade, algo assim pode acabar com uma vida. Mas não foi bem isso o que aconteceu: tudo o que havia acontecido naquele ano mostrou ao garoto que, às vezes, responsabilidades são mais importantes do que aquilo que você sente em relação à elas. Os frutos que agora ele colhia vinham das notas que ele tinha tirado, e não do único par de olhos que ele via, que não possuíam cicatrizes.
Ali, naquele momento, ele fez a escolha pela responsabilidade, pela primeira vez. E nos anos que se seguiram, aqueles cadernos, aqueles livros, seriam a sua vida.
Enquanto isso, em algum lugar distante, passos de bebê eram dados...(continua).

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Tempo. Em Palavras.

Lá se vai o mês mais curto do ano, e junto com ele as minhas férias.
Aos poucos, vou desenvolvendo táticas cada vez mais elaboradas para voltar meu relógio biológico à sua forma antiga. Acordar em algum horário antes do meio-dia já é bom o bastante até domingo.
Mas, enfim, o interessante é que na última quarta-feira voltei para casa com o sol nascendo. É como voltar à tardinha, mas com o tempo passando ao contrário, e nesse cenário eu pude encontrar meu equilíbrio. As idéias que adentraram a minha mente nos últimos dois meses acabaram encontrando seu lugar e terminaram por montar meu quebra-cabeças. Aos poucos fui encontrando o que era preciso para balançar entre momentos felizes e momentos responsáveis, e aquela que talvez seja a dose certa de cada um. Mas não é esse meu assunto principal, é algo que eu queria contar.
Nesse carnaval, uma pessoa muito simpática me perguntou o que era o tempo, pra nós, físicos. Ainda que não estivesse em meu juízo perfeito, essa foi, mais ou menos, a resposta: As pessoas normais tendem a associar o tempo ao passado e ao futuro, usando-se de fenômenos periódicos, como o nascer e o pôr-do-sol, para marcar os dias. Isso dá a elas a impressão de que o tempo é uma coisa que flui, independente de sua vontade. Para os físicos, e pra mim, o tempo é só mais uma dimensão, como altura, largura, profundidade... é só mais um fator que te permite localizar um evento, um acontecimento. Assim, o tempo pra mim é aquilo que te diz: se você sabe o que quer fazer, então sabe onde, e sabe quando. O tempo é só uma incrível, e filha da p%$uta, dimensão.
Eu não sou um monstro, afinal, por pensar que o tempo é só isso. Sou um monstro por saber disso, e mesmo assim tudo bem.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Um Sábio. Sem Dúvida.

"Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome: auto-estima. Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades. Hoje sei que isso é autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de amadurecimento. Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Hoje sei que o nome disso é respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama amor-próprio. Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é simplicidade. Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muito menos vezes. Hoje descobri a humildade. Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada. Tudo isso é saber viver!"
Charlie Chaplin

Nessa semana assisti o filme "O Grande Ditador" de 1940, de Charlie Chaplin. Uma forte crítica ao nazismo em plena segunda guerra mundial. Vale à pena. É uma grande obra de um grande gênio.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

"Você é a pessoa mais inteligente que eu conheço."

Já me disseram, há algum tempo, que eu encontro as qualidades das pessoas quando converso com elas, mas basta um olhar e eu encontro todos os defeitos.
Talvez não seja pela forma como as coisas são, mas apenas pela maneira como eu as encaro. Desde pequeno, tudo aquilo que valorizei foi aquilo que as pessoas me diziam, nunca aquilo que faziam, ou como se pareciam. A maioria das pessoas com o qual tive prazer de conversar tinham realmente algo a dizer, e eu tinha realmente algo a aprender com elas. Eu nunca, nunca perdi uma oportunidade sequer de aprender à moda antiga, enquanto um fala e o outro escuta. Só escuta.
Geralmente, não gosto muito do que vejo.
Aconteceu com um jovem que acompanhei durante um tempo. Ele era pouco mais novo, e nós costumávamos conversar às vezes. Ele tinha algo a me ensinar, embora nem mesmo ele soubesse disso. Enfim, com o tempo, nos afastamos, e passei à apenas vê-lo de vez em quando.
Em oitenta por cento do que você diz, você não usa palavras.
Ele havia mudado completamente, estava uma pessoa diferente. Sua aparência tinha melhorado, sua postura e o jeito de se vestir mudaram, e à partir de algum momento, durante a minha ausência, tudo o que ele tinha para ensinar se perdeu. Tudo aquilo que mais admirava nele desapareceu, e só ficaram os defeitos, que eu de longe percebia. Não havia mais nada o que dizer, o que aprender, o que ouvir. Nele nada soava além de uma impecável casca vazia.
Hoje faz pouco mais de um ano que não o vejo. E nesse intervalo de tempo às vezes me pego pensando o que minha presença em sua vida poderia ter feito para evitar tal desgraça, e que mal o aguarda que eu poderia ter evitado. Uma dose de culpa, alguém há de imaginar, às vezes faz bem. Só queria que as pessoas soubessem que elas não precisam ser tudo aquilo que as pessoas esperam que elas sejam: Sua família, seus amigos, seus amores. Ninguém pode agradar a todos. Queria que soubessem que um dia uma alma se perdeu por pensar assim, e ela ainda está perdida. Aos poucos, mergulha para a morte.
Ela se perdeu e está onde eu já não posso encontrá-la.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Momentos de Felicidade

Tenho que admitir que foi uma semana feliz.
Fiz muita coisa além da minha rotina normal, e de certa forma isso contribuiu para que eu não ficasse tão duro, e até tenho dormido melhor. Em momentos como aqueles eu me lembrava muito brevemente daquela menina que um dia saiu para um ônibus, e se perdeu no espaço, mas não no tempo. Me lembro rapidamente de um rapaz que estava careca e me ofertou seus últimos dias me ensinando algumas coisas. Tudo muito brevemente. Enquanto eu estava feliz, esses pensamentos tentavam entrar. Eu olhava para eles, e logo esquecia. O meu entendimento, minhas lembranças e minhas lições não podem conviver com minha felicidade. Não com a felicidade pura e simples. São lembranças tão queridas, mas ao mesmo tempo tão tristes...
E a conclusão cruel é essa. Enquanto eu estiver feliz não posso ser eu mesmo, não posso pensar nas coisas que me fazem único, trazer à minha mente as idéias que geralmente me salvavam.
O que isso significa? Que não se pode esperar nada de mim enquanto estiver feliz, ou seja, minha felicidade acaba sendo, no final das contas, o que me faz fraco. Isso me explicou muita coisa do passado, e me ensinou muita coisa para o futuro.
E da próxima vez que a felicidade que essa semana me apresentou bater à minha porta, eu vou pensar duas vezes nas minhas responsabilidades, para comigo e para com os outros.
Na maioria das vezes vou atender.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Agradecimentos

Gostaria de dizer que finalmente lembrei que, dia 13 deste mês, este blog fez dois anos. E, relembrando a postagem "Direção" de um ano atrás, acredito que nesse tempo a felicidade nos encontrou algumas vezes, em breves momentos. Momentos suficientes.
Enfim, de fato nunca estive tão agradecido de ter começado tudo isso do que agora - começar algo que não se sabe quando deve acabar, que talvez seja eterno, e que não depende de mais ninguém além de você mesmo. Quando se tem uma oportunidade assim?
Hoje vou escrever rápido, porque tenho alguns projetos encaminhados que precisam da minha atenção, e queria agradecer a todos os que acompanham essa guerra e essa paz, essa mistura tão interessante nos meus dias.
A cidadela está novamente de pé, e os muros agora são um pouco mais baixos do que eram. Andei investindo nas armas.
Obrigado.

Nota.: Obrigado pelos acessos, pessoal. Na última semana fui o primeiro site nas pesquisas do Google para "Diários de Guerra e Paz". Valeu!

domingo, 17 de janeiro de 2010

No Centro do Perigo

Hoje é Domingo.
É o dia em que as famílias "invadem" a UFV, e é o dia em que eu verdadeiramente não costumo fazer nada. Também é o dia em que, aparentemente, os preparativos para mais uma formatura vão chegando ao fim. As tendas colocadas no jardim, os enfeites, e logo haverá baile e colação de grau, não necessariamente nessa ordem.
Se eu tivesse feito tudo como deveria, poderia estar me formando agora. Se eu tivesse decidido que faria tudo o mais rápido possível, se tivesse me arriscado mais, eu atravessaria aqueles portões com um diploma, ainda esse mês. E pensando melhor, se eu não tivesse atrasado um ano no meu vestibular, já teria feito isso ano passado. Se eu não tivesse escolhido 2005 como um ano de férias, eu não estaria aqui, olhando esses preparativos sendo feitos não-pra-mim. Tanta coisa passou pela minha cabeça, enquanto passava por aquele pedaço de caminho que tantas vezes eu cruzei com sono, às vezes feliz, às vezes triste, e na maioria delas fazendo aquilo que eu acreditava ser certo, que eu achava que era o melhor pra mim, ainda que não fosse para os outros.
Tanta coisa, entre uma decisão e outra, deixou de aconteceu quando eu achava que deveria, quando, depois que o tempo havia passado, pensei que deveria ter sido diferente.
E foi daí que eu tirei uma importante lição. As coisas realmente só acontecem porque e no momento em que precisam acontecer. O que eu achava que devia acontecer e não aconteceu, então, perdeu seu significado. Eu não sou feito das coisas que não aconteceram, e estou orgulhoso do caminho que eu segui, seja ele bom ou mal.
Já estive no centro do perigo, não tenho mais arrependimentos. Isso é tudo o que importa.