terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Dia Mais Importante

O ano está acabando, e antes de que alguém me venha com aquela história de que "lá vamos começar tudo denovo", e "vou passar o Reveillon lá na Praia Bonita", quero deixar claro de que ainda não acredito que uma grande mudança precise de uma data específica para ocorrer. Geralmente as grandes mudanças ocorrem em dias onde não as esperamos.
Mas eu compreendo que a maioria das pessoas que vêm até esta página procuram o meu "recado de fim-de-ano". Afinal por que seria diferente? Embora eu não acredite na importância da data, eu sempre tento convencer uma ou outra pessoa de que ela, de fato, não é importante. Dessa vez, quero experimentar como seria se fosse o contrário. Vou tentar encontrar a importância da data revisando meus últimos 365 dias. Em ordem cronológica (sem brincadeira) foi tudo mais ou menos assim:
Eu aprendi a desistir, e botei em prática. Alguém fez 15 anos. Fui a São Paulo pela primeira vez, e choveu. Eu me molhei tomando cachaça. Eu fui matriculado no último período. Eu comecei o último período. Alguém me deu um banho de realidade, e foi para os EUA. Comecei a escrever um livro. Eu formei. Alguém trancou a matrícula, e começou eventualmente o próprio negócio. Voltei a desenhar. Achei que fosse mudar, não de casa, mas de vida. Alimentei um sentimento proibido por alguns meses, pra fazer um teste. Alguém voltou para o Brasil, me deu outra lição de moral, e voltou aos EUA. Matei o sentimento proibido que tinha alimentado, e cancelei o teste. Terminei a primeira versão do manuscrito do meu livro.
Passei o Natal com a família, ou pelo menos parte dela.
Daí você, como eu, há de pensar que se tenho que passar por tudo isso novamente, se é valido acreditar na vida como um grande ciclo de 365 dias, então é hora de aprender a desistir, e botar em prática. É hora de eu desistir de convencer qualquer pessoa a não confiar na mudança da data. Espero eu, do fundo do coração, que vocês aproveitem o recomeço, aquele em que vocês acreditam, curtam as suas "Praias Bonitas", as suas festas lotadas ou suas viagens pra longe, as suas ficadas em casa, com uma alegria responsável e aquele sentimento necessário à qualquer grande mudança: Hoje vai ser o dia mais importante, não importando qual.
Abraços, e até 2012.

Ps.: À pedidos, minha lista de livros lidos (ou com leitura concluída) nos últimos 365 dias:
Terra dos Homens (duas vezes), Cidadela e O Pequeno Príncipe (leio todo ano) do Exupéry;
 Innumeracy, do John Allen Paulos;
O Monge e o Executivo, do James Hunter;
Surely You're Joking, Mr. Feynman!, do Richard Feynman;
Um e A Ponte para o Sempre, do Richard Bach e
Einstein: His Life and Universe, do Walter Isaacson.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A Jornada de Chegar

Aqui em Vice City, como acredito que quase em toda Minas Gerais, não se sabe se faz frio ou calor.
Nessa atmosfera, eu tentei, meio que em vão, encontrar a inspiração, ou até a transpiração, necessária para dar formas finais à minha auto-intitulada obra de arte, "A Síndrome do Gênio". Depois de uma dúzia de dias tentando escrever algumas poucas palavras, decidi que ainda não era hora, e deixei o projeto no gelo, esperando a oportunidade de se revelar novamente.
Uma grande amiga, de volta ao Brasil depois de nove meses, me ajudou muito nisso. A forma como eu tenho escrito, até então, está diretamente ligada ao meu estado de espírito, e talvez o meu "bloqueio criativo" era devido ao simples fato de que, bem lá no fundo, um assunto precisava ser resolvido antes que eu pudesse terminar o livro, antes que eu pudesse por um fim àquela história.
Se você acompanha o blog desde as postagens mais antigas, daquelas bem antigas mesmo, do tipo Na Noite da Chuva ou Sob Controle, deve saber que eu já fui uma pessoa muito mais confusa, e muito mais problemática do que sou hoje. Acontece que, no decorrer de todos esses anos, desde antes do exílio em Vice City até agora, a minha vida pode ser resumida de maneira muito simples: tentei me relacionar com alguém, e não deu certo porque eu estraguei tudo; alguns anos depois, tentei novamente, fiz de tudo pra não cometer os mesmos erros, mas não deu certo apenas porque nossos mundos definitivamente não eram os mesmos. Mas o que a segunda experiência veio adicionar à primeira, mais do que tudo, foi a redenção. Quando tudo acabou de vez, não tive aquela sensação de derrota, como aconteceu na primeira vez, tive aquela sensação de que "Tudo o que aconteceu valeu à pena, e agora estou em paz consigo mesmo. Você não fracassou.".
Quando cheguei em casa, depois dos últimos com ela em Três Corações, peguei o computador e comecei a escrever, e só terminei na última linha, na última frase, na última palavra.
O manuscrito está pronto, todas as complicações foram esquecidas, e não me sinto tão tranquilo em muitos anos. A paz encontrou minha cidadela.

sábado, 26 de novembro de 2011

Amor, por Definição

"Tentarão lhe ensinar, em alguns dias, ou talvez em alguns anos, a diferença entre ter aquilo que precisa e aquilo que quer. Seu professor ou sua professora pode ser alguém de perto, ou alguém de longe. Pode ser alguém que compartilha exatamente as mesmas opiniões que você, ou entender que tudo o que você sabe está errado e precisa ser mudado. Pode ser alguém que vá te convencendo aos poucos, ou alguém que te enfie verdades garganta abaixo. Mas não é esse o problema: o que pode ser, no final, nem sempre é.
O problema é que, muitas vezes, é preciso ter olho clínico pra saber reconhecer a verdade: o medo te cega, a arrogância te cega, o orgulho te cega. Tive um amor que acabou cedo porque tive medo, porque fui arrogante e porque fui orgulhosa, e não pude ver que muitas vezes nos preocupamos tanto com o que os outros vão achar do que sentimos que deixamos de sentir, que deixamos nos levar pelo veneno do julgamento alheio, e muitas vezes o julgamento próprio. Ao longo dos anos, nossa cultura tendeu a suprimir o amor e a cultivar a necessidade de ser amado, e ainda punindo a correspondência a esse amor a ferro e fogo. O amor não só deixou de ser bonito, como deixou de existir, sendo substituído por uma simples palavra, um nome próprio perdido no tempo em que se fazia sem esperar nada em troca, em que zelo e paixão eram suficientes e necessários, hoje são necessários mas não suficientes.
Mas eu espero que algum dia você perceba essa verdade, e você redescubra o sentimento que realmente importa dentro de você, e que além do medo, da arrogância e do orgulho você possa ver a verdade. Amor não tem nada a ver com beijos, abraços ou sexo, tem a ver com o que te leva a fazer essas coisas, tem a ver com o que há no seu coração.
Alguém há de lhe ensinar, em alguns dias ou alguns anos, que ser amado é tudo o que você queria, mas amar é tudo o que você precisa."

Escrito por Leila Romano no caderno de Cálculo que ela deixou aqui em casa, em Vice City, e que com toda a sua timidez me deixou transcrever.

sábado, 19 de novembro de 2011

O Preço da Liberdade

Durante a chuva de quinta-feira, uma árvore caiu na minha rua, ou melhor dizendo, uma árvore da minha rua caiu, com isso, ficamos sem energia elétrica por quase cinco horas. Moral da história: lá vou eu pro telhado de casa pensar na vida. Quando cheguei lá, vi o estrago que a chuva tinha feito: uma bagunça sem fim, tudo espalhado e indubitavelmente sujo. As cinco horas que eu tinha pra gastar sem energia elétrica se foram na arrumação, e eu senti novamente o peso da responsabilidade com as minhas coisas.
Já se passaram cerca de quatro meses desde que estou, como minha mãe costuma dizer, abandonado aqui em Vice City, o exílio que se tornou minha casa. A vida se tornou bem mais fácil, e de certa maneira, eu sou mais livre pra fazer as coisas que sempre quis: desenhar um pouco, escrever um pouco, estudar um pouco, e isso sem depender de mais ninguém. O que importa disso tudo é que, arrumando a bagunça do meu terraço, eu percebi que muitas vezes liberdade tem tudo a ver com responsabilidade, só que a responsabilidade consigo mesmo. Todos os compromissos que assume são para tornar a sua vida melhor e a de mais ninguém.
Nesse sentido, posso afirmar que a gama de pessoas que acredito serem livres aumentou significativamente, afinal, qualquer coisa é maior que zero.
Foi assim que eu aprendi a assumir as responsabilidades certas comigo mesmo, e muito embora eu ainda tenho que me esforçar para ter a vida que eu acho que mereço, ela sempre será só minha, e isso é ser livre.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Rei do Fundão

Eu terminei o Ensino Médio em 2004. Durante os três anos deste famigerado período escolar, eu sentei no fundo da sala, o que fazia muita gente perceber que a posição em que um aluno senta nada tem a ver com seu interesse pela aula. Sempre tirei boas notas, e tentei levar comigo duas ou três almas perdidas, que davam vida ao que chamávamos (e não sei se ainda chamamos), de "o Fundão".
O Fundão abrange os 25% das cadeiras que ficam mais afastadas do quadro, e é conhecido por se tratar de um espaço onde, aparentemente, ninguém estuda. Só que na minha época era diferente, o Fundão era digno de respeito quando se tratava de estudo.
Me lembrei daquele velho Fundão, na verdade, quando voltei para Vice City depois do feriadão. Quando eu comprei a minha passagem, dessa vez, tava tudo lotado. "Amigo, só tem corredor. Tem a 28, 34, 36...", "Me dá a 44." E no dia e hora do embarque, lá vou eu com a passagem da 44, la atrás, esperando entrar no ônibus lotado. O que aconteceu é que, como tinha muita gente indo de Rio Pomba de volta à Vice City, arranjaram um ônibus só pra gente, sem banheiro e com cinco lugares no fundo, e eu, acreditem se quiserem, era o único sentado da poltrona 35 pra trás. Eu era o fim do hiato, o dono das quase 12 poltronas que constituíam o fundo do ônibus.
Moral da história: eu usei três das cinco poltronas de trás do ônibus, dormi como um bebê, e nunca viajei de forma tão confortável. Eu fui, por duas horas, novamente o rei do Fundão.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Encarceramento Voluntário

Eu matei algumas pessoas.
Se essa frase lhes faz pensar que eu fui longe demais, e que provavelmente deveria parar de ler agora, não se preocupe: eu matei algumas pessoas que eu criei.
Não sei se já mencionei isso em algum lugar (acho que provavelmente comentei sobre isso no blog da Aline Fernandes \o/ Ahora me toca a mi...), mas estou escrevendo um livro sobre a minha pseudo-doença, chamado "A Síndrome do Gênio". O fato é que meu manuscrito entrou, semana passada, no último capítulo da saga, e eu me vejo, pela primeira vez desde que iniciei essa empreitada nove meses atrás, há uma semana sem escrever absolutamente nada. Acho que sempre que eu escrevia, eu narrava coisas que aconteceram, ou deviam ter acontecido comigo, mas daqui pra frente meus personagens principais estão abandonados, e até mesmo eu me recuso a ir ao resgate deles.
Se havia algo que facilitasse amplamente a minha escrita, era o fato de que, no fundo, eu me sentia como eles. Eu me induzia a ser aquilo que eles eram, via o mundo da maneira que eles viam, e da perspectiva deles surgiam minhas idéias. Só que agora eles estão isolados, e o que eu posso fazer agora?
Estive em Belo Horizonte algumas semanas atrás, pra ver minha mãe, que já tem uma versão impressa do manuscrito até o momento e já rabiscou ele quase inteiro. Essa é a vantagem de ter uma pessoa crítica na família. O caso é que, nas quase 24 horas em que estive lá, ela me falou umas duas ou três vezes que eu fico meio que abandonado aqui em Vice City. Talvez seja bem verdade, mas talvez seja exatamente o que eu preciso.
Talvez esse encarceramento voluntário seja o que eu preciso para escrever o final, para terminar de contar a história, para ver se a resposta para a grande pergunta: "como o mundo funciona?" está mesmo à altura de minhas páginas.
Meio perdido, e meio em casa.

sábado, 15 de outubro de 2011

Desistindo Propriamente

"Então, Jardel... lembrei que você tava aprendendo a tocar piano no Ensino Médio. O que aconteceu? Desistiu?"
Na verdade, só aprendi o básico mesmo do piano, e aproveitei mais a teoria musical. Mas não é sobre a primeira parte da frase que quero falar, é sobre a segunda. Tenho pensado ultimamente no verdadeiro sentido do verbo "desistir". O dicionário define como: cancelar, interromper, abandonar. Eu defino como desfazer vínculos. Eu sei porque fiquei um bom tempo achando que tinha desistido de uma coisa, mas que estava sempre lá: isso não é desistir. Desistir é deixar ir, é se desprender. Aprendi que desistir é muito diferente de ficar olhando de fora e não tentar, porque por mais que você não tente, o vínculo ainda está ali; nas duas situações, você não tem como ganhar o objeto do seu desejo, só que quando você desiste propriamente, você está livre - a dor te abandona e novamente nos aproximamos da vida que podemos ter, aquela para os quais éramos cegos, surdos e mudos.
E eu levei muito tempo para entender o que era desistir, mas a lacuna que fica lhe dá a oportunidade de preenchê-la, quem sabe, com aquilo que você no fundo sempre achou que valeria a pena.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Oceano Atlântico


Nunca deixe para fazer amanhã o que pode fazer hoje. Essa frase talvez seja a mais clichê que já tenha ouvido, e talvez o fato de ter se tornado tão comum tenha me feito deixar de notar a verdade que ela encerra. Eu vivo deixando coisas pra depois e isso vai, antes que eu perceba, atrasando a minha vida.
Eu digo isso porquê estive navegando por mares misteriosos no último fim de semana, indo ao Rio para o casamento da minha prima, e esse tipo de viagem (no qual eu inevitavelmente viajo com gente que eu conheço), me põe pra refletir um grande preço que eu pago pra fazer as coisas que eu faço. Já fazem três anos e meio de Blogger, estou escrevendo um livro que já está no meio, há umas duas semanas voltei a desenhar e ainda estou no Mestrado em Física. Três, dessas quatro atividades, me exigem um poder criativo acima da média, e eu percebo que esse poder criativo exige certos sacrifícios que, até um certo momento naquela praia, eu não tinha percebido.
Um vento cortante, céu nublado, e o som das ondas quebrando na minha mente, me fez olhar pra trás e perceber o que eu havia deixado passar durante todos esses anos: a minha produção depende essencialmente da minha necessidade. Eu tenho que precisar das coisas, não que tê-las, e isso me fez enxergar o que já vinham me dizendo desde que aquele ônibus partiu de Vice City, levando com ele a responsável pela minha transfiguração: se ela voltasse, eu nunca terminaria as coisas que eu comecei.
E, depois de um par de anos talvez, eu aceitei o fato de que ela não volta porque sempre soube disso, porque ela sempre entendeu o motor que me faz funcionar. Isso me lembra que talvez um dia eu não precise criar mais nada, e que aquela praia seja o lugar perfeito para certos encontros, mas que a alma que me fez nascer denovo, muito antes disso, será aquela que vai constituir família, e pelas minhas criações criarei seus filhos, sem nunca conhecê-los.
Uma tola mocinha sem nada na cabeça me ensinou a criar, um gênio me ensinou o que é preciso para terminar o que comecei.

domingo, 25 de setembro de 2011

A História de uma Decisão.

É isso o que acontece quando duas pessoas cientes de sua capacidade, e do impacto que elas podem ter no mundo, individualmente, se encontram. Um dia eles se vêem diante de uma encruzilhada que pode mudar para sempre a vida delas: elas podem escolher trilhar o caminho nobre, o que lhes permite ajudar o seu ambiente e as pessoas ao seu redor a terem vidas melhores, de acordo com a sua contribuição e sua disponibilidade, ou podem trilhar o caminho da renúncia, onde elas negam às outras pessoas aquilo que lhes torna especiais, constituem a responsabilidade de uma família e se retiram à passos tímidos para as sombras da felicidade.
Tudo acontece assim:
"Estamos diante, já há algum tempo, de uma importante decisão; mas eu te conheço a mais tempo do que você me conhece, e sei que você é o mais capacitado a carregar esse tipo de fardo. Você não pode renunciar àquilo que é certo, e mesmo que seja necessário abrir mão das coisas maravilhosas que você vê, e que só o amor é capaz de proporcionar, tenho certeza de que pode encontrar uma recompensa diferente no caminho que escolher trilhar.
Ninguém é capaz de encarar a responsabilidade de ser amado por você, e ninguém é capaz de corresponder às suas expectativas neste ponto, e é tudo o que você deve saber para seguir em frente.
Eu seguirei pelo outro caminho... terei filhos, talvez, e eles viverão no mundo que você ajudará a criar; viverão no mundo que você conhece com seu - hoje atrás de suas sobrancelhas, amanhã atrás de sua janela - e provavelmente, daqui a alguns anos, te direi pela minha vida como seria a sua se tivesse encolhido esquecer seu dom, mas você não precisará me contar da sua, pois já saberei dela quando for ao supermercado, quando for colocar o lixo pra fora, quando pagar as contas.
Você levou muito tempo para esquecer tudo o que precisava, para entrar nessa paz. Não volte atrás agora."
E assim os anos hão de passar, e as mudanças no mundo ocorrerão através de grandes mentes, que em algum momento um dos dois deixará pra trás algo que valorizava, para nos dar um facho de sua capacidade, tendo como único motivo poder criar o mundo dos filhos do outro, e não conhecer nenhum deles. Mas, até o momento em que decidem, não há como dizer quem é quem.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Retomando um Castelo Perdido.

Pra quem ainda não sabe, eu sei desenhar. Acho que eu sabia desenhar muito antes de saber o que eu desenhava: fazia uma casa antes de saber o que era uma casa, fazia um carro antes de saber o que era um carro, e pra mim, desde pequenos, as formas dos objetos eram tudo, muito antes de saber para que exatamente eles serviam. O caso é que, durante muito tempo (mais ou menos três anos), eu não me dediquei à essa nobre atividade. Durante os últimos anos eu deixei as canetas nanquim apodrecerem numa gaveta, e tentei me convencer de que aquilo era por uma boa causa. Eu era como um fumante que decidiu parar de tomar café para ver se parava de fumar. Estava disposto a deixar para trás tudo aquilo que envenenava a minha mente, e me levava a me enveredar em um caminho que me puxava para trás, que me trazia um sentimento que poderia me matar. E durante todo esse tempo, aquelas canetas esperaram, quietas na gaveta da escrivaninha, pelo seu momento de voltar. E agora que o horizonte, ainda trêmulo, soa mais tranquilo, eu resolvi pôr fim à espera. A grande maioria das coisas que me levaram a parar de desenhar já não estão mais comigo, e só ficou aquilo que me estimula, que me leva a acreditar que, se você não fizer por você, ninguém fará. Como um grande amigo já me advertiu uma vez, você pode ter todo o talento do mundo, e pode ser capaz de coisas incríveis, mas enquanto o "poder" não se torna "fazer", é tudo em vão. Você morre e isso tudo se perde, e ninguém jamais vai ficar sabendo disso. E foi por isso que eu fiquei assim, como uma criança que reaprende a andar, depois de ficar anos sentada; como um homem que reaprende a lutar, depois de mergulhar na penumbra do ócio e do comodismo. Caminho novamente para a linha de frente, com as armas na mão: papel e caneta.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Filho Torna-se o Pai

Descobri essa semana que meu café é muito forte, forte de levantar defunto. Foi quando eu acabei colocando uma "colherinha" a mais de pó e não notei diferença nenhuma. Meu pai, aliás, já tinha me dito isso uma vez.
Segunda-feira passada, como de costume, é um dos dois dias da semana em que eu tenho que levantar cedo. E lá estava eu, quinze pras seis da manhã, levantando da cama. Cheguei na cozinha e tirei todo o meu bom e velho material do armário da cozinha: Filtro de papel, pote de pó de café, pote de açúcar e suporte para o filtro. Enquanto arrumava o resto das coisas, pus a água a ferver. Não demora muito tempo, vocês sabem, para que ela atinja a temperatura ideal e as bolhas comecem a aparecer. Foi pouco depois disso, quando o pó preto se misturava à água cristalina e fumegante que eu ia derramando, que me veio uma lembrança.
Me lembrei de quase sete anos atrás, quando eu ainda tinha que levantar cedo todos os dias, de quando éramos uma família unida mas não tão feliz, e de que era meu pai quem fazia aquilo que eu estava fazendo. Eu e minha irmã, ainda relutantes em encarar o caminho para o Colégio, esperávamos um ao outro para usar o banheiro: um banho frio, o cafezinho do papai e escovar os dentes. Segunda-feira, era eu quem fazia o café, era minha agora a responsabilidade da minha vida.
Em mim estava consolidado o nascer de um novo herói, daqueles que Weaver imaginava quando ainda estava vivo, quando me pediu para abandonar tanta coisa que jamais me traria àquele momento, na cozinha. Enquanto a água ia acabando, e a garrafa se enchendo, eu tive certeza do que eu era: Eu era definitivamente meu...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A Injustiça ao que Persegue

Sala nova, laboratório novo. "É tão estranho ver o Jardel entrando na sala do lado..." disse uma amiga minha. Depois da comemoração da etapa vencida, agora é tempo de voltar ao trabalho, mas agora estou mais ainda voltado aos meus outros pequenos projetos: algumas páginas de um livro inacabado, alguns desenhos no fundo de uma gaveta, partituras do Super Mario esperando minha preguiça deixar eu trazer o teclado pra Vice City...
Mas estes são os projetos que eu abracei. São aqueles que, depois de uma análise minuciosa de tudo o que já passou, e de tudo o que está por vir, passaram no meu teste do "É possível, então farei.". Não peguei no computador para falar deles, quero falar dos outros.
Perseguir é uma arte, é tentar encontrar uma maneira de ir do "sem" até o "com", e trilhar cada passo que sua mente cuidadosamente previu, e que baseada em alguma lógica, admite que tudo dará certo. Nem sempre é assim. Devemos ter a idéia de que no mundo há outras pessoas, com objetivos diferentes do seu, e alguns até conflitantes, e que se elas não quizerem, acredite, não vai dar certo. Eu passei a compreender que certas coisas não vão mudar porque você as quer diferentes, e não vão continuar as mesmas só porque lhe convém. Eu aprendi que, quando se trata de um caminho errado, quanto mais cedo perceber melhor, e que sempre há outro na direção oposta.
E passei a entender que quanto mais você se afasta de um objetivo, mas esse fantasma vai te assombrar. Muitas vezes isso vai te fazer pensar: "Se eu ainda estivesse procurando, hoje teria encontrado.", mas isso, além de natural, é apenas consequência de não se querer mais. É um lembrete de que é importante saber, simplesmente, deixar pra lá - não importa o que aconteça.
Então é isso: adeus pra quem fica, que estou indo embora.

domingo, 7 de agosto de 2011

Pelos Seus Filhos

Já depois de uma semana no Mestrado, a coisa que tenho achado mais estranho, devo admitir, é o fato de estar acordando no horário em que normalmente ía dormir. Mudar de sala, assistir menos aulas, e oficialmente dar aula em uma matéria da UFV não é nada comparado a isso.
Ontem, dia 6 de agosto, porém, foi um dia "meio que de luto" pra mim. Já se foram três anos que meu grande amigo Jonas Weaver se foi, e sempre que esse dia passa eu me pego pensando na promessa que fizemos (ver Um Pacto pela Eternidade). E, nesse contexto, pensei entender no que meu contexto atual influencia essa decisão de futuro. Vejo meus professores, e o rumo que o caminho segue. No fundo, são pessoas extraordinárias, que dizem coisas incríveis que apenas uma fração reduzida da humanidade é capaz e compreender. Muito embora a sua capacidade seja extraordinária, e não tenha vindo sem esforço, mas muito pelo contrário, essa mesma capacidade pode fadá-los ao esquecimento e até mesmo a um certo "isolamento intelectual" se é que me entendem.
Para que eu cumpra a promessa ao meu amigo Weaver, a Física não me é suficiente. Nós, dizia ele, temos que nos esforçar para deixarmos nossa marca no mundo, algo de que as pessoas se lembrem, algo que elas possam passar para seus filhos, e não precisa necessariamente ser algo incrível, ou algo de natureza quase sobrenatural: só precisa ser algo importante.
Buscando a importância, então, vou dedicando parte do meu tempo à tarefa de me tornar eterno, por uma causa nobre, antes que tudo se perca pelo caminho.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Passos Firmes de Pés Descalsos

Ontem voltei pra casa feito um ninja, só com os olhos de fora. O frio de Vice City (isso mesmo, cá estou eu denovo) tem sido cada vez pior. Hoje vi os preparativos da minha colação de grau sendo desmontados, e sei que até amanhã tudo vai voltar a ser como era antes, pelo menos para os observadores desavisados. Não pra mim.
Dei adeus, meio que inevitavelmente, à uma fase da minha vida. Uma dessas transformações, como alguns de vocês devem saber, envolve um diploma e uma Universidade, envolve professores e família. A outra, talvez muito mais intensa e muito mais intrínseca, envolve a diferença entre viver um momento e observá-lo. Agora, como devem imaginar, posso olhar para trás e identificar-me como um tipo de pessoa diferente do que sou agora; posso ver como eu era e o que eu devo achar de mim mesmo. E nessa prática de me analisar talvez eu encontre uma pilha de erros entre as qualidades que eu pensava que tinha.
A moral da história, na verdade, é bem simples: uma vez que você passa por uma transformação, ela lhe permite observar a si mesmo como uma pessoa de antes, como alguém diferente capaz de lhe ensinar coisas que não sabia, sobre o antes e o depois, sobre como ser e sobre o que evitar. É isso que estou percebendo, enquanto a passos firmes, me movo novamente para a frente de batalha.
Essa guerra já durou tantos anos, e quanto mais eu luto, menos quero que ela acabe.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Meu Muro de Berlim

Não sou a pessoa mais social do mundo. Acredito que todo mundo que me conheça já tenha, ou ainda terá, motivos para acreditar nisso. Grande parte da minha vida foi destinada a mim, e nada mais. Nunca gostei de ser o centro das atenções e não vou começar agora. O caso é que devo me formar em duas semanas e muita gente, como era de se esperar, está esperando por esse momento.
Aqui em Vice City (isso mesmo, ainda não saí daqui), é "Semana do Fazendeiro" e gente de todo lado se reúne na "minha" UFV, e no meio deles, hoje, andei no pôr-do-sol. Nesse momento, mais uma vez, me veio aquela velha embaraçosa pergunta: "O que você está fazendo aqui?". Eu estou estudando, obviamente. Estou pegando um diploma de Físico. "É, isso tudo eu sei, mas o que você está realmente fazendo aqui?". Eu estou tentando ser feliz. Estou tentando sair da miséria que eu sentia todo dia antes de vir pra cá, de tentar fazer as coisas e não conseguir. "Mas por que teve que fazer isso tudo?". Não sei ao certo, mas pelo que sei ao certo, não deveria ser necessário. Teria sido, de fato, necessário, sair tanto da minha zona de conforto, me submeter a um sistema que não reconhece seus esforços, e ser, mais uma vez, o centro das atenções só pra encontrar um meio de ser feliz? Será esse o caminho certo? Sabendo de todas as minhas atribuições, e meus defeitos, qual será a dificuldade a me parar, dessa vez?
Eu queria que as coisas fossem mais simples, que fosse só ir lá e pegar o canudo, e ninguém ficaria sabendo e a paz reinaria na Terra, mas não é. Às vezes me sinto como o soldado que foi mandado ao topo da montanha, pegar uma planta para salvar seu capitão, e percebe lá em cima que ele já está morto. Existem infinitas coisas que me trouxeram até o topo dessa montanha que não existem mais, e foi preciso todo um caminho para me ensinar, para me dar um motivo diferente do inicial.
Eu não quero mais ser feliz, eu quero que isso tudo não acabe em lágrimas.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Monte das Oliveiras

Essa é a última semana de aula.
Todo fim de período é a mesma dificuldade, e a mesma papelada pra resolver, só que no último período é bem pior. Sempre faz mais frio no pico da montanha.
O caso é que, a partir de quarta-feira, experimentarei uma liberdade que não sinto desde julho de 2008, quando comecei a me interessar pela Física ao ponto de entrar para o PIBIC - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica. De lá pra cá, mesmo nas férias, eu tinha que ficar em Vice City e trabalhar. O caso é que esse mês não tem mais PIBIC, não tem mais curso de inverno, não tem mais Física. Consequentemente, não tem mais Elias curtindo suas férias em Vice City.
E conversando com um amigo sobre isso, ele veio me perguntando "E aí, Elias, vai passar as férias onde? Rio Pomba ou BH?" que eu prontamente respondi, brincando, "Acho que vou pra Cuiabá, Mato Grosso do Sul.".
Acho que não sei se vai me importar ou não, o caso é que, todo esse assunto sobre sair de Vice City e só voltar pra formatura me faz lembrar do tempo que passou desde que eu pisei aqui pela primeira vez. A diferença entre o que eu era há cinco anos. Sobre quantas vezes tive que pisar naquela rodoviária pra aprender que posso ir pra qualquer lugar através de um ônibus, mas nunca vou encontrar um lugar pra sentar, respirar fundo, e realizar todos os sonhos da minha vida. Em cinco anos, do mais fundamental, aprendi que meus sonhos são muitos pra uma pessoa só realizar.
Mas vale a pena tentar, um de cada vez.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Cordão Umbilical

Meu ano está acabando. Meu ano acaba no meio.
É quando, normalmente, eu entrego o relatório final da minha bolsa do CNPq, e fico livre de mais uma obrigação para com o governo brasileiro: a obrigação de produzir ciência. Mas, dessa vez, entregar esse relatório será a última coisa que farei nesse período, e provavelmente não farei isso denovo; a bolsinha de iniciação científica se tornará a bolsa do mestrado, e a obrigação de produzir ciência vai apenas mudar de nome.
Todos haverão de concordar que, só de ouvir a palavra obrigação, parte do prazer se perde. Eu vim a descobrir, nos últimos cinco anos, que é isso o que acontece aos estudantes de Física, por toda parte. A obrigação torna a ciência monótona, e deveras maçante. Imagino porque Einstein só descobriu a relatividade quando não trabalhava com Física. Mas, antes que essa postagem dos "Diários" se transforme numa postagem do "Labirinto", vou dizer o que aconteceu essa semana pra eu trazer esse assunto à tona. Uma grande amiga minha desistiu da Física, há dois anos, no primeiro período. Hoje está nos EUA com o pai e a gente se fala por msn uma vez por mês. Da última vez, nossa conversa me deixou clara uma severa hipótese: A Física é algo que me dá prazer, sempre foi assim e sempre será; mas o Curso de Física é um cordão umbilical, algo que te prende à obrigações e paradigmas sobre até que ponto você é capaz de viver aquilo que gosta. Se, em qualquer momento, eu me sentir limitado por ele, garanto que nada vai me impedir de cortar esse cordão, de ir trabalhar num escritório de patentes, como fez Einstein, de ouvir o que minha mãe, minha amiga e talvez minha irmã sempre me deixaram claro.
Eu sou melhor do que o curso que faço. Eu tenho certeza.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mirante

Minha mãe não gosta muito do outono. Segundo ela, o ar fica muito pesado, e até meio triste. Nesse mês de maio eu fui vê-la, depois de muito tempo, e novamente algumas coisas referentes ao "grande acontecimento" daqui a dois meses chegaram para me rondar. Mês de maio, dessa vez, eu não tirei férias tão grandes assim.
Depois de tanto tempo parado, não só com as atividades do Blogger, quanto de muitas outras, não pude deixar de temer esquecer algumas coisas. Me preocupei em esquecer como colocar, em algumas palavras, o que acontece (ou pode acontecer) comigo. E no vai e vém, principalmente nesse mês de maio, revisitei um lugar que a um tempo atrás significava muito pra mim (coisa que, aliás, tem me acontecido muito ultimamente), e na minha memória algo que estava perdido voltou, e tudo o que eu pude dizer, lá do alto, foi:
"Acho que tinha me esquecido disso."
Quando a sua mente te força a esquecer algo, pra não enlouquecer, e você segue em frente, o que te faz lembrar daquilo denovo, além dela mesma? E se lembrar que esqueceu, não é o mesmo que lembrar? Mas os tempos são outros, e aquilo que eu tinha na minha mente nunca afetou meu coração, de qualquer maneira. Com toda sinceridade, me lembrando de alguns anos atrás, e da face maravilhosa do destino que vi ali, e ali mesmo vi desaparecer, eu sorri; um sorriso honesto, que por muito tempo eu havia me negado, e a tantos anos sequer existiria.
Uma guerra começou em uma montanha, anos atrás, o sangue desceu na enxurrada, e hoje vi as árvores que nasceram no lugar.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Avenida Purdue

Se você quizer entrar na UFV, pela cidade, existem três entradas: A reta, mais famosa, a entrada alternativa, que passa pelo outro lado da lagoa, e a Avenida Purdue. Essa última quase nunca é utilizada, apenas por aqueles cujo caminho fica realmente mais rápido, o que não são muitos nesse caso.
Na última quinta-feira fiquei em casa quase o dia inteiro, e tinha um compromisso na UFV. Como não queria que ninguém me convencesse a ficar lá, fui pela Avenida Purdue. É uma rua sem prédios, entre a mata e o jardim de Botânica. No horário em que eu passei lá, não havia nem uma alma viva, ninguém que precisasse chegar ao seu caminho mais rápido. E ficar sozinho assim, enquanto ando despropositalmente por um lugar que sempre existiu ao meu alcance, mas onde nunca tive motivo para passar, me lembrou de outras coisas que estavam ao meu alcance, naquele dia, e até hoje estão, e que eu não tenho, ou não preciso, ou esteja muito acomodado pra tentar.
De acordo com algumas pessoas que eu conheço, meu futuro está agora praticamente traçado, mas isso significa trilhar exatamente aquilo para o qual a minha seta aponta, sem me preocupar com o que está ao meu alcance ou não. Como esperar o que é seu se chocar com você, bater na sua cara, sem ter que esticar o braço para ter o que quer que seja? Eu quero me esforçar pra ter alguma coisa, além daquilo que virá por eu simplesmente existir e respirar. Quero ter uma aspiração, um objetivo que além de perfeitamente plausível, esteja ao meu alcance agora, e ninguém me diz que "é só esperar".
Estou procurando agora a minha via secundária, aquilo que vai surpreender muita gente, a minha Avenida Purdue.

P.S.: Maio, como os leitores mais antigos sabem, é meu mês de férias. Então até junho!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Pensando em Ovos

Um surto de inspiração. Foi isso o que aconteceu essa semana comigo. Escrevi quase duas páginas do meu "Paradoxo" (futuro livro) no mesmo dia, desenhei algumas paisagens, e resolvi uns dois problemas de Mecânica Quântica.
Quando umas coisas assim acontecem, dá vontade de ser assim todo dia. Pena que, ao contrário dos nossos desejos, esse surto de inspiração acaba e a gente volta a andar a passos de tartaruga. A gente para de produzir e começa a consumir produção, deixa de criar pra se aproveitar da criação dos outros. Assim, depois do surto, a minha vida seguiu como normalmente, e eu fiquei pensando no que eu poderia fazer pra ter outro daqueles, e principalmente SE eu poderia fazer alguma coisa quanto à isso. Então, liguei pra uma das pessoas que eu acabei treinando pra me ajudar em situações como essa: a única pessoa que consegue me analisar sem ser excessivamente sentimental.
Eis a conclusão a que chegamos: Não é o que acontece, mas como você encara o que acontece que realmente importa, que realmente te leva a querer tirar do nada algo que valha a pena. O que está aos seu redor, e principalmente as pessoas que você mantém ao seu redor tem tudo a ver com sua produtividade. Existem bilhões de pessoas no mundo com quem você nunca vai se relacionar, e muitas que você nunca vai sequer conhecer, mas só é preciso meia dúzia pra te inspirar, se você souber achar a meia dúzia certa.
E se você pensar bem, essa meia dúzia de pessoas se modifica, à medida que a gente cresce, e isso torna o processo de criação, ainda mais, um processo de descoberta. E foi voltando ao surto que eu encontrei a meia dúzia de que preciso.
Esse número, acho, tende a aumentar...

sábado, 2 de abril de 2011

Como a Gente Funciona

Há muito tempo eu não posto uma música. Pois é.



Gomez - How We Operate

Calm down, and get straight.
Acalme-se, e se ajeite.
It's not our eyes, it's how we operate.
não são nossos olhos, é como a gente funciona.
You're true, you are.
Você é verdadeira, você é.
I'd apologize but it won't go very far.
Eu me desculparia, mas isso não vai longe.

Please come here, come right on over.
Por favor, venha aqui, vem direto pra cá.
And when we collide we'll see what gets left over.
E quando colidirmos, veremos o que vai sobrar.
A little joy, a little sorrow,
Alguma alegria, alguma tristeza,
And a little pride so we won't have to borrow.
E algum orgulho, pra gente não pedir emprestado.
Wherever you lead, I'll follow.
Onde você levar, eu sigo.

Turn me inside out and upside down
Me vire do avesso e de cabeça pra baixo
And try to see things my way.
E tente ver as coisas do meu jeito.
Turn a new page, tear the old one out
Vire uma nova página, e rasgue a antiga
And I'll try to see things your way.
E eu vou tentar ver as coisas do seu jeito.

Please come here, please come on over.
Por favor, venha aqui, vem pra cá.
There is no line that you can't step right over.
Não há limite que não possa cruzar.
Without you, well, I'm left hollow,
Sem você, bem, eu fico vazio,
So can we decide to try a little joy tomorrow?
Então podemos tentar alguma alegria amanhã?
'Cos, baby, tonight I'll follow.
Porque essa noite eu vou seguir.

The way that we've been speaking now
Do jeito que a gente tem falado agora
I swear that we'd be friends, I swear.
Poderia jurar que eramos amigos, eu juro.
'Cos all these little deals go down with
Por que todos esses pequenos acordos caem
Little consequences, we share, we share.
com poucas consequencias. Nós as dividimos.

Turn me inside out and upside down
Me vire do avesso e de cabeça pra baixo
And try to see things my way.
E tente ver as coisas do meu jeito.
Turn a new page, tear the old one out
Vire uma nova página, e rasgue a antiga
And I'll try to see things your way.
E eu vou tentar ver as coisas do seu jeito.
And I'm gonna love you anyway...
E eu vou te amar mesmo assim...

sábado, 19 de março de 2011

Trovão e Lua

"O céu já fica laranja às vezes."
Com essa frase uma pessoa me animou muito ontem, enquanto eu falava sobre adorar o outono. E embora a paisagem vá se modificando para a nostalgia dessa estação, quando olhei pela janela, senti cheiro de grama molhada. Tinha acabado de chover e já era tarde, e ao que tudo indicava, era hora de eu ir embora do Departamento de Física, se não quizesse pegar uma chuva "viçosense".
Não sei se já tinha comentado, mas aqui chove do nada. Provavelmente efeito das montanhas ao redor, ou do azar mesmo, mas 50% das vezes que você toma chuva aqui, nem percebe ela chegando. E naquele dia, com o céu nublado, eu saí de volta pra casa.
Braços cruzados. Um grande mestre meu dizia que apenas se deve preocupar em aquecer o tronco, que o resto do seu corpo se aquece sozinho. Eu não sei bem se é verdade, mas naquele instante eu cruzei os braços, pois estava no meio da reta, e começava a chover.
Eu olhava pra cima, e via as gotas chegando pouco a pouco, de dentro pra fora no círculo do meu olhar. Elas eram cada vez mais numerosas, e eu ligava cada vez menos pra elas. Quando eu era pequeno, gostava de entrar na chuva quando ela já estava forte, gostava de pegar o olho do furacão, mas o que me fez ignorar o fato de estar me molhando foi o "pouco-a-pouco". Não foi a essência daquela juventude perdida, mas o que aquela sensação fazia comigo, naquele dia. Eu cheguei ao fim da minha reta da UFV, passei pelas quatro pilastras, e tomava o rumo de casa. O filme que descia do céu agora estava sendo rebobinado, e a chuva parava de cair mais rápido do que tinha vindo.
Já a 100 metros de onde eu moro, uma luz estranha iluminava a rua, onde as luzes dos postes denovo não tinham suportado uma chuvinha. A grande auréola branca desenhada nas nuvens pela lua. Ali, naqueles 100 metros finais, parecia que alguém me tinha pregado uma peça, e que peça linda. Aquela chuva lavou as coisas que eu queria perder.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O 24º Outono

Eu nasci uns cinco dias antes do começo do outono de 1987, mas ainda assim me considero um outonense. Agora já faltam cinco dias para o começo de mais um outono, o 24º da minha vida, e alguém veio hoje e me disse que eu sou a pessoa mais bem humorada que esse alguém conhece. Bom, talvez as pessoas não me conheçam tão bem, mas isso não importa.
O que importa é que ontem, antes de hoje chegar, eu percebi grandes coisas acontecendo, fiquei feliz com quase todas elas, e quando chegou meia noite eu pensei que eu poderia morrer ali mesmo, e a paz se faria no mundo. Eu sempre tive certeza que, se fosse pelo bem da humanidade, 80% da população terrestre jamais dará uma contribuição que mereça ser notada. A grande maioria das pessoas só está aqui pra incomodar, mas nesse intervalo de 24 horas eu pude perceber aquilo que ainda existe pra se salvar. Eu vi as pessoas tristes do mundo.
Sim, porque aquela pessoa que você vê rindo o tempo todo tem a vida mais sem graça que se pode imaginar, sabe por que? Porque ela tem certeza que dali ela não vai a mais lugar nenhum. E assim eu vejo a felicidade, a felicidade da simplicidade, e por muito tempo eu pensei porque eu não era feliz assim. Acho que finalmente encontrei a resposta: porque eu ainda tenho a capacidade de me mover. Eu ainda posso fazer muito mais do que faço agora, e essa minha "falta de felicidade" serve pra eu me lembrar disso - serve pra não deixar que eu me acomode e siga em frente. Eu nunca vou ser feliz assim.
E ainda bem que eu soube de tudo isso, já que o 24º outono está pra começar. Nesse momento, no horizonte, uma antiga estrela se aproxima.

segunda-feira, 14 de março de 2011

No Começo e No Fim

Sempre tenho comentado a forma como aproveito as minhas viagens. Cada ônibus que eu pego é como uma música que eu canto pra mim mesmo, e dividir certos momentos com estranhos me deixa, de certa forma, mais à vontade do que com conhecidos.
A mudança, por si só, me proporciona pensamentos que muitas vezes eu cheguei a deixar de lado, uma vez que chego ao meu destino, mas nada disso me impede de começar tudo denovo, quando chega a hora de voltar. Acho que essa é a melhor definição de casa: é pra onde eu vou quando digo: "É hora de voltar...". Enfim, nesse vai e vem em que a minha vida tem se resumido nos últimos (quase) cinco anos, alguns pensamentos me vinham preferencialmente enquanto eu esperava o ônibus partir, ou quando via, no céu noturno, os primeiros reflexos das luzes da cidade - do meu destino. E são esses pensamentos que sempre permanecem, quando entre uma viagem e outra, eu encontro asilo na residência fixa, nos acontecimentos de cada dia.
Eu falo dos motivos, das razões às vezes obscuras a mim mesmo, de ir de um lado para o outro. Falo das coisas que me motivam a ir pra onde as quatro rodas me levam, e dos lugares onde nenhum veículo do mundo poderia me levar. Falo daquilo que me impele, que me chama em cada lugar onde, vez ou outra, me vejo chegando sem saber porque, sem pensar muito sobre isso. Falo das pessoas - de uma dúzia de pessoas que são importantes pra mim, das que estão ao meu alcance, das que eu ajudei tantas vezes quando ninguém mais podia. Eu falo daquilo que aprendi com todas elas, e da mais cruel e absoluta verdade: você jamais se tornará importante pra quem ajudar, principalmente quando se é o único que pode fazê-lo, mas para aquele que ajuda, uma marca e uma cicatriz são feitas, e elas duram eternamente: assim nasce a importância e o zelo.
Eu falo disso porque fiz coisas pra muita gente, durante toda a minha vida - coisas que apenas eu seria capaz de fazer, e isso não me fez importante, mas tornou muita gente importante pra mim. E nesse momento, já passados tantos anos, eu sei que não há uma só pessoa no meu planeta, nos pontos finais de nenhuma de minhas jornadas, no começo e no fim, que possa me retribuir por tudo aquilo. Esse é o preço que se paga por fazer pelas pessoas aquilo que elas não podem fazer sozinhas.
Esse é o preço que se paga por não poder pedir.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

27 Horas

Como é bem sabido, minhas férias acabaram e eu aproveito a primeira semana de aulas do período. Mas, pra que isso fosse possível, tive que viver uma última grande aventura no fim de semana: acertar meu relógio biológico pra acordar cedo. Até então, era sempre: dormir às quatro da manhã, e acordar meio-dia pra ir almoçar.
Uma das coisas que eu valorizo são minhas horas de sono. Se eu durmo menos de oito horas, fico o dia inteiro com sono. Diante desse simples fato, e contando que meu tempo era bastante curto (isso era sábado), resolvi me pôr a caminho de uma grande odisseia. Era sábado, meio-dia, quando eu acordei e fui almoçar. Depois, Departamento de Física jogar conversa fora e jogar com os caras. Isso foi até umas oito da noite, quando as pessoas normais vão pra casa. Noite adentro, lá eu fiquei. Nisso começou a chover, por volta das 2 da manhã. Eu fiquei preso lá (nada de voltar pra casa pra assistir o Corujão). Meia hora depois, a Internet cai. É muito raro me ver com raiva, mas nesse momento eu fiquei, e quando achei que não podia piorar, cai a energia de vez. Daí fico eu, na janela da boa e velha salinha de estudos, aproveitando já as minhas doze e poucas horas acordado, olhando as estrelas bem vivas, como a muito tempo não fazia. E nesse cenário, creio eu, eu pude me encontrar novamente - um final está chegando, e ele bate à minha porta. Quando olhava as estrelas, daquele jeito, há dez anos atrás, não sabia nem metade do que eu sei agora sobre elas, mas continuo vendo-as da mesma maneira. Acho que só é possível entender certas coisas através de uma cultura.
Depois de duas longas horas, a luz volta - a Internet não. Então, vou passear pelo prédio do CCE, e faço do prédio vermelho o playground de um menino de vinte e poucos. As sete da manhã, dia claro, vou pra casa. Sem nada pra fazer, ligo pra uma grande amiga, e digo que queria ser o Jack Bauer, e ela diz que eu tô mais pra House sem Vicodin. Levei como elogio. Assisto a quadrilogia Alien, e já se vai o dia.
São três da tarde, vinte e sete horas depois de ter acordado, e eu pego no sono. Aprendi duas grandes coisas com isso tudo: Primeiro, eu fui feito pra dormir. Segundo, eu não sou o Jack Bauer, sou o House sem Vicodin.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"Martina"

Uma das vantagens da falta de aulas é a possibilidade de escolher meus horários de trabalho. É o privilégio que me é reservado, nesses três meses, de escolher a que horas quero ir dormir e acordar. Vejam, não raras vezes durmo às quatro da manhã, e acordo ao meio-dia, pra almoçar.
Eu trabalho numa geladeira. Uma sala de uns doze computadores mantida a 18 graus celsius o dia inteiro, e isso pra quem não sabe, me faz usar pelo menos uma camisa de manga, muito embora a temperatura do mundo exterior esteja beirando o inferno, como nesses meses de verão. Mas, voltando ao assunto, eu geralmente volto desse lugar muito tarde da noite, e durmo em casa depois de uns minutos, usando os seriados do sbt ou o corujão pra dormir tranquilamente, manhã afora. Eu volto tarde da noite, lá pelas três da manhã, e geralmente fito os prédios do caminho, vendo quais luzes solitárias estão ainda acesas, compartilhando comigo a lucidez na madrugada.
É nessas horas que a minha cidade é minha, e meu exílio de tantos anos torna-se quase a minha casa, e eu me vejo, mais de uma vez, compartilhando a reta da UFV com ninguém além das capivaras. Uma delas, inclusive, parece até já me reconhecer; é uma das grandes, e sempre que eu passo por ela (se nenhum guardinha da vigilância estiver por perto), digo um "você era um filhote quando eu entrei aqui, hein?", e termino de descer meu caminho, pela noite de uma reta sem ninguém, entre a manada de capivaras - minhas fiéis companheiras pela noite. Eu posso enganar a mim mesmo às vezes, mas acho que nunca vou enganar aqueles olhares desconfiados que elas têm, e elas parecem saber, às vezes, as coisas que eu estou deixando pra trás: estou deixando pra trás uma das minhas melhores amigas, só pelo inferno que isso é, só pelo bem que isso vai fazer a nós dois. É isso no que dá ser tão diferente de todo mundo.
E as capivaras nunca vão me dizer o que eu deveria ter feito, se me disserem eu volto a dormir à noite.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Arte da Despedida

Muita gente acredita que, se você olha muito em volta, acaba mais cedo ou mais tarde encontrando aquilo com o qual se inclinar, com o qual se identificar, e assim poder seguir uma direção predeterminada.
Nos caminhos que eu segui, sempre tentei ao máximo nunca fazer algo do qual possa me arrepender. Todo esse cuidado, porém, tem uma outra face. Muitas vezes eu me pego imaginando quantas coisas eu ainda podia ter feito enquanto estava lá, antes de me despedir das pessoas, ou mesmo antes de pegar o caminho de casa. Mais de uma vez eu me peguei voltando pra casa, sob as estrelas, às vezes embaixo da terra, sabendo que não iria voltar tão cedo, e temendo não ter feito tudo aquilo que é devido que se faça. E nesse mês, mais de uma vez, eu me despedi com um aperto no coração. Aquele aperto que te diz pra voltar lá e fazer aquilo que esqueceu, diz que tudo pode vir a baixo num instante, e que a única obrigação que temos com as outras pessoas é deixá-las saber exatamente o quanto são importantes - não pelo ego delas, não pelo puro e simples contrato social que parece reger as nossas vidas a cada minuto, mas apenas porque, sem isso, muitas coisas que a gente nem lembra que existem passam a ser incompletas, passam a ressoar como nota procurando resposta numa música.
Me desculpem as três pessoas de quem não me despedi propriamente dessa vez, àquela que me despedi pela última vez, e obrigado à que me viu voltar, e me disse de mansinho um "que bom que voltou hoje, antes de ir embora", que me livrou de um vazio. Pena que o valor das pessoas nunca é suficiente pra impedir algumas derivas...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Para Além do Horizonte

Sempre venho ressaltando aqui a importância que eu dou a certos acontecimentos insignificantes. Pois é, pensando nisso, me pus à caminho, nos mês de janeiro, de lugares que há muito tempo não visitava. Lugares que fizeram parte da minha infância querida e que, aos poucos, foram ficando cada vez mais reservados à minha memória.
A nossa memória, muitas vezes, é um lugar obscuro demais.
Quando você liga lugares a acontecimentos, é isso o que acontece: visitar lugares acaba sendo reviver acontecimentos, e reviver acontecimentos, vocês hão de concordar, é relembrar aquilo que se sente. Mas, bem, não foi assim pra mim. Existia um fator com o qual eu não contava - eu não sou, nem de perto, a pessoa que eu era quando aquelas coisas haviam acontecido, na primeira vez em que estava naqueles lugares, na primeira vez que as coisas aconteceram. E, de repente, aquilo que eu era incapaz de sentir há tanto tempo atrás me invadiu, e a coragem que tantas nobres almas tentaram me ensinar, no tempo que liga o que eu era ao que eu sou, finalmente encontrou seu lugar. E a soma dessas coisas, das várias experiências que eu voltei a viver, visitando lugares familiares, me melhorou aos poucos; me fez enxergar coisas que eu não enxergava, e fez meu passado ainda mais completo.
Existem coisas nesse mundo, eu sei, que jamais poderei explicar, e que jamais poderei mudar, mas ver essas coisas de todos os ângulos possíveis te consola, te mostra o quanto esse irremediável é benéfico para o seu crescimento, e depois de tudo eu percebi que um bom trabalho foi feito, ao longo dos anos. As vidas que eu não salvei, e o coração que eu acabei devolvendo no processo, estão em boas mãos; ainda assim vou pegá-lo de volta, e pular na frente dessa carreta...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Cem

Mês de janeiro não é meu mês de férias, mas todo mundo sabe o quanto eu sou ruim com compromissos...