domingo, 25 de setembro de 2011

A História de uma Decisão.

É isso o que acontece quando duas pessoas cientes de sua capacidade, e do impacto que elas podem ter no mundo, individualmente, se encontram. Um dia eles se vêem diante de uma encruzilhada que pode mudar para sempre a vida delas: elas podem escolher trilhar o caminho nobre, o que lhes permite ajudar o seu ambiente e as pessoas ao seu redor a terem vidas melhores, de acordo com a sua contribuição e sua disponibilidade, ou podem trilhar o caminho da renúncia, onde elas negam às outras pessoas aquilo que lhes torna especiais, constituem a responsabilidade de uma família e se retiram à passos tímidos para as sombras da felicidade.
Tudo acontece assim:
"Estamos diante, já há algum tempo, de uma importante decisão; mas eu te conheço a mais tempo do que você me conhece, e sei que você é o mais capacitado a carregar esse tipo de fardo. Você não pode renunciar àquilo que é certo, e mesmo que seja necessário abrir mão das coisas maravilhosas que você vê, e que só o amor é capaz de proporcionar, tenho certeza de que pode encontrar uma recompensa diferente no caminho que escolher trilhar.
Ninguém é capaz de encarar a responsabilidade de ser amado por você, e ninguém é capaz de corresponder às suas expectativas neste ponto, e é tudo o que você deve saber para seguir em frente.
Eu seguirei pelo outro caminho... terei filhos, talvez, e eles viverão no mundo que você ajudará a criar; viverão no mundo que você conhece com seu - hoje atrás de suas sobrancelhas, amanhã atrás de sua janela - e provavelmente, daqui a alguns anos, te direi pela minha vida como seria a sua se tivesse encolhido esquecer seu dom, mas você não precisará me contar da sua, pois já saberei dela quando for ao supermercado, quando for colocar o lixo pra fora, quando pagar as contas.
Você levou muito tempo para esquecer tudo o que precisava, para entrar nessa paz. Não volte atrás agora."
E assim os anos hão de passar, e as mudanças no mundo ocorrerão através de grandes mentes, que em algum momento um dos dois deixará pra trás algo que valorizava, para nos dar um facho de sua capacidade, tendo como único motivo poder criar o mundo dos filhos do outro, e não conhecer nenhum deles. Mas, até o momento em que decidem, não há como dizer quem é quem.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Retomando um Castelo Perdido.

Pra quem ainda não sabe, eu sei desenhar. Acho que eu sabia desenhar muito antes de saber o que eu desenhava: fazia uma casa antes de saber o que era uma casa, fazia um carro antes de saber o que era um carro, e pra mim, desde pequenos, as formas dos objetos eram tudo, muito antes de saber para que exatamente eles serviam. O caso é que, durante muito tempo (mais ou menos três anos), eu não me dediquei à essa nobre atividade. Durante os últimos anos eu deixei as canetas nanquim apodrecerem numa gaveta, e tentei me convencer de que aquilo era por uma boa causa. Eu era como um fumante que decidiu parar de tomar café para ver se parava de fumar. Estava disposto a deixar para trás tudo aquilo que envenenava a minha mente, e me levava a me enveredar em um caminho que me puxava para trás, que me trazia um sentimento que poderia me matar. E durante todo esse tempo, aquelas canetas esperaram, quietas na gaveta da escrivaninha, pelo seu momento de voltar. E agora que o horizonte, ainda trêmulo, soa mais tranquilo, eu resolvi pôr fim à espera. A grande maioria das coisas que me levaram a parar de desenhar já não estão mais comigo, e só ficou aquilo que me estimula, que me leva a acreditar que, se você não fizer por você, ninguém fará. Como um grande amigo já me advertiu uma vez, você pode ter todo o talento do mundo, e pode ser capaz de coisas incríveis, mas enquanto o "poder" não se torna "fazer", é tudo em vão. Você morre e isso tudo se perde, e ninguém jamais vai ficar sabendo disso. E foi por isso que eu fiquei assim, como uma criança que reaprende a andar, depois de ficar anos sentada; como um homem que reaprende a lutar, depois de mergulhar na penumbra do ócio e do comodismo. Caminho novamente para a linha de frente, com as armas na mão: papel e caneta.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Filho Torna-se o Pai

Descobri essa semana que meu café é muito forte, forte de levantar defunto. Foi quando eu acabei colocando uma "colherinha" a mais de pó e não notei diferença nenhuma. Meu pai, aliás, já tinha me dito isso uma vez.
Segunda-feira passada, como de costume, é um dos dois dias da semana em que eu tenho que levantar cedo. E lá estava eu, quinze pras seis da manhã, levantando da cama. Cheguei na cozinha e tirei todo o meu bom e velho material do armário da cozinha: Filtro de papel, pote de pó de café, pote de açúcar e suporte para o filtro. Enquanto arrumava o resto das coisas, pus a água a ferver. Não demora muito tempo, vocês sabem, para que ela atinja a temperatura ideal e as bolhas comecem a aparecer. Foi pouco depois disso, quando o pó preto se misturava à água cristalina e fumegante que eu ia derramando, que me veio uma lembrança.
Me lembrei de quase sete anos atrás, quando eu ainda tinha que levantar cedo todos os dias, de quando éramos uma família unida mas não tão feliz, e de que era meu pai quem fazia aquilo que eu estava fazendo. Eu e minha irmã, ainda relutantes em encarar o caminho para o Colégio, esperávamos um ao outro para usar o banheiro: um banho frio, o cafezinho do papai e escovar os dentes. Segunda-feira, era eu quem fazia o café, era minha agora a responsabilidade da minha vida.
Em mim estava consolidado o nascer de um novo herói, daqueles que Weaver imaginava quando ainda estava vivo, quando me pediu para abandonar tanta coisa que jamais me traria àquele momento, na cozinha. Enquanto a água ia acabando, e a garrafa se enchendo, eu tive certeza do que eu era: Eu era definitivamente meu...