sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A Síndrome

O que eu não daria pra voltar atrás em algumas coisas, ou ter a oportunidade de fazê-las diferente. Ontem fiz uma oração pra mim mesmo. Pedi que fazer de tudo para que as coisas dêem certo, pedi pra largar de ser um covarde de merda e sair do casulo, e pedi pra criar a coragem de me desligar das coisas que me mantém seguro.
Tudo na vida tem um limite, uma fronteira. Eu sempre tive medo de chegar no precipício que há nessa fronteira, sem perceber que é lá que as coisas mais incríveis acontecem. Eu percebi que eu, na verdade, sempre estive no meio da planície, dentro de casa, dentro da minha mochila, chorando que nem uma menininha, vendo o precipício pela televisão.
Não mais, agora a coisa ficou séria.
Finalmente. Agora só preciso plantar uma árvore e ter um filho, quer dizer, três.
Filhos, não árvores.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Nostradamus

Há alguns meses atrás eu estava assistindo, com a minha mãe, um documentário no History Channel sobre Nostradamus.
Pra quem não sabe, Nostradamus foi um cara que escreveu um livro há muito tempo atrás, que as pessoas acreditam que sejam previsões sobre o futuro. Eu tenho uma visão bem cética sobre aqueles que acreditam em destino, que tudo está traçado, que nós não temos o controle sobre aquilo que podemos ter, que podemos fazer acontecer. Com as previsões do Nostradamus, a coisa não é diferente.
Assim, depois daquele dia, sempre que eu vou embora de Belo Horizonte, de volta à minha Vice City, eu brinco com a minha mãe dizendo algo do tipo "vai chover às 3:17 da tarde.", e minha mãe fica toda cética. O número é quebrado, não é um horário bonito, e essa é a intenção.
Se eu digo que vai chover exatamente às três da tarde, e começa a chover três minutos depois, vão acreditar que eu forcei o resultado, e que na verdade eu queria dizer "mais ou menos" as três da tarde. Mas se eu digo um horário que, além de específico, é quebrado, ou eu estou certo ou não. "Se não chover às 3:17, você nem vai lembrar do que eu disse. Mas, se chover, vai ser legal não vai?"
É basicamente o que o Nostradamus fazia: as coisas que não aconteceram, ninguém lembra, mas as que acontecem impressionam todo mundo. Foi o que aconteceu dessa vez. Estavamos eu e minha mãe na estação do metrô, presos por causa da chuva, e eu, com a minha bobeira sem tamanho, falei com a minha mãe: "conta até 26 que vai parar de chover.". Dessa vez funcionou, e o resto do povo que ouviu o que eu tinha falado ficou impressionado, sem saber que eu faço isso o tempo todo, sem saber que eu apenas joguei um jogo onde basta tentar até conseguir.
E eu me lembrei, pensando nisso, nos motivos que me fazem ser cético quanto à importãncia do destino: eu já tentei prever meu futuro muitas vezes, já tive um objetivo em mente, um rumo traçado, mais os acidentes na estrada tiraram-no de mim. Eu perdi um sonho, que foi logo substituído por um melhor, depois, perdi esse também. Se tudo nessa vida segue mesmo um padrão, o que está guardado pra mim, dessa vez? Pelo que eu tenho que lutar?
Não sei se isso é destino... talvez seja só a minha alma de criança, querendo tentar até conseguir.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

No Último Minuto (ou The Breakfast Club)

Há algumas semanas atrás estive em Belo Horizonte. Fui ver minha mãe denovo. Ultimamente, tenho feito isso uma vez por mês.
Dessa vez, não fui sozinho, fui com uma amigo meu. Era a primeira vez que ele ía à BH, e como  recepção calorosa esperamos quase trinta minutos, parados no trânsito, a duzentos metros da rodoviária. Nesse dia, chovia bastante. Ainda era mês de novembro, e como todo mês de novembro, eu tenho que tomar chuva pelo menos uma vez. Aquele era o dia.
Detalhes da viagem à parte, o mais interessante se sucedeu no caminho de volta. Eu viria para Vice City, meu exílio, e meu amigo seguiria para a minha cidade natal, Rio Pomba. No último minuto, porém, decidi ir com ele para Rio Pomba, jogar conversa fora com meu pai por alguns dias, jogar sinuca (agora nem videogame eu jogo), e só então seguir para Vice City. Essa decisão de mudar o destino da minha viagem me rendeu uma experiência, e uma das companhias de viagem mais interessantes que eu já tive.
Ela era farmacêutica, se sentou do meu lado, e falava pelos cotovelos. A outra, eu nem cheguei a saber o que fazia, mas era o tipo de pessoa que, apesar da "pouca" idade, sabia bastante do mundo, e se sentou ao lado do meu amigo. O senhor, sentado atrás de mim, tinha um humor negro do tipo que eu adoro, e também parecia saber das coisas lá de fora.
Mas eu jamais saberia desses detalhes, principalmente se, na altura de Carandaí, nossa viajem não tivesse sido interrompida, por quase três horas, devido a um acidente. Um caminhão de sucata tinha virado e derrubado algumas toneladas de ferro velho da pista, e nosso ônibus ficou parado por quase três horas.
Sem sinal de celular, sem sinal de que o problema seria resolvido, aquelas cinco pessoas começaram, então, a trocar experiências de vida. Falávamos das pessoas com quem havíamos convivido, das nossas façanhas do dia-a-dia, das habilidades que cada um havia desenvolvido, de maneira a viver a vida do jeito que nos aprouver. Durante três horas, aquela caixa de ferro e borracha era nossa barraca de acampamento, há quilômetros de qualquer região habitada.
O ônibus, então, finalmente andou. O alívio de estar a caminho de casa chegou ao "Clube dos Cinco", e tudo correria bem a partir dali.
E foi só no final da viajem que eu percebi que nenhum deles sabia meu nome. No último minuto, eu pensei que não valia a pena dizer. Desci do ônibus e fui pra casa.

P.S.: Assistam O Clube dos Cinco (The Breakfast Club).

domingo, 18 de novembro de 2012

Avalon

Eu achava que a mulher da minha vida tinha se casado com outro cara.
Esse não é o tipo de coisa com o qual me deprimo, não quando não acredito em destino. Mesmo assim, por um tempo, eu olhava pro nada pensando "o que é que eu vou fazer agora?". Eu sentia falta dos bons momentos, da época em que ela ainda estava por aqui, e xingava o meu estado de espírito ao ponto de me animar. Eram dias felizes, eram dias perfeitos que regavam meu chão seco com gotas de otimismo.
Mais de uma vez, eu me inebriei nas ondas de um relacionamento quase-sério, em meio às nuvens das minhas inseguranças, e usava dele para me inspirar. Ele era meu sustento, e de fato havia mudado a minha vida.
Mas ela se casou com outro cara. E no fundo eu não estava triste por isso, nem decepcionado. Quando não se é o melhor exemplo de pessoa, você não anseia estar com alguém pra sempre, muito pelo contrário, você evita.
Eu havia perdido a minha felicidade, ou era o que eu pensava. E eu havia me focado naquela noite mágica, no meio de um mar de noites terríveis, onde seguraram minha mão e me trataram como pessoa, e eu tinha bebido demais e aquela música incrível tocava e eu imaginei, naquele momento, que nós dois ficaríamos juntos pra sempre, e minha vida inteira seria daquele jeito, tão maravilhosa. Pra minha sorte, minha vida inteira se tornou ainda melhor, apenas não parece, pois agora me acostumei com o bem-estar assim como estava acostumado com o sofrimento. Aqueles bons momentos de que eu sentia falta eram do tipo que só acontecem quando a vida é feita de maus momentos.
Que felicidade me deu perceber isso.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Porca

Comprei um ventilador.
Dado o calor que tem feito em Vice City ultimamente, e provavelmente em toda Minas Gerais (pelo menos Rio Pomba e Belo Horizonte estão em chamas), isso é perfeitamente compreensível. Melhor compra do ano.
É um ventilador gigante, acho que eu nem precisava de um tão grande, mas meu quarto agora está 10° C mais fresco, coisa pela qual sou grato. O caso é que, entre eu sair da loja com a bendita caixa e aproveitar as utilidades do produto, o calor não caiu sem lutar. Durante a felicidade inebriante de abrir a caixa, em casa, e começar a juntar as peças do meu novo amigo, percebi que faltava uma porca. Uma... maldita... porca.
Uma pecinha de 1 cm de diâmetro era minha sina.
Se existe uma coisa que aprendi é que nem sempre o caminho mais fácil é voltar na loja e reclamar. Tenho certeza que se eu tivesse feito isso, eles me teriam feito voltar em casa, botar o camarada de volta na caixa, levar pra eles com a nota fiscal, pra daí sim eles me entregarem um novo (com a porca). Isso faria com que eu tivesse que ir e voltar na loja com uma caixa nos braços. Eu tinha uma opção melhor: comprar só a porca em uma loja qualquer.
Fui no Bicalho, uma loja de eletroeletrônicos aqui de Vice City. Não tinham a porca. Perguntei se eles sabiam onde eu poderia encontrar, e eis que me veio uma surpresa, disfarçada em uma frase: "Na Casa do Parafuso, na Milton Bandeira." Em Vice City existe uma loja especializada em porcas e parafusos! Quero dizer... sério mesmo? Essa eu pagaria pra ver.
Vinte minutos debaixo de um sol escaldante depois, cheguei até a tal Casa do Parafuso e posso dizer, nesse mundo existem muito mais tipos de parafusos e porcas do que se pode imaginar. Mostrei o parafuso pro cara, ele me vendeu a famigerada pecinha, e eu voltei pra casa. Mais um cliente satisfeito. A Casa do Parafuso havia desempenhado seu papel.
Encaixei a porca no ventilador, e o resto da tarde foi a benção.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Exile Vilify

"Você não pode fazer isso sozinho."
Essa foi a última coisa que me disseram, antes de entrarem na Igreja. A frase foi dita há alguns dias (mais de quarenta, eu garanto), mas a entrada na Igreja ainda não aconteceu.
Eu não posso fazer isso sozinho. Ainda não consegui me lembrar exatamente de como, ou porquê esssa frase me foi dita, mas posso afirmar que ele repercutiu bastante, como quase tudo que veio da mesma fonte.
O que a companhia elétrica faz quando você não paga a conta? Retornou a mim, junto com aquela frase, a velha noção de que eu ajudei tanta gente com coisas que só eu poderia, que eu salvei a vida de tanta gente, e ainda assim, sou uma pessoa terrível na maioria dos aspectos; do tipo que não raras vezes se recusou a ajudar a si próprio.
O que você faz quando seu esforço jamais poderá ser recompensado? Você para de se esforçar. Você se afasta devagar, de leve, sem pressa, sem ser notado, sem culpa. Se enche de egoísmo e dá as costas. Essa é a única maneira que conheço de combater injustiça.
Eu não me sinto a melhor pessoa do mundo agora, então não preciso agir como se fosse. Mas, não liguem pro que eu digo quando estou sentindo dor. Eu não costumo fazer sentido nessas horas.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A Mudança do Mar

"Na próxima vez que nos pusemos ao mar, em 1932, não fora muito tempo depois, algo em torno de um ano... mas eu estava mais de um ano mais velha. Não sei o motivo; eu simplesmente amadureci de relance, de forma que imediatamente eu sabia muito mais sobre mim mesma, o que eu queria e o que eu devia fazer. Isso me tornou mais sóbria, e eu estava muito menos tímida."
                                      The Gastronomical Me, de M.F.K. Fisher.

Sabe quando você se livra de um problema, um daqueles que estava te incomodando a um bom tempo, mas ainda assim fica com raiva por ele ter existido? Daí o que acontece é que você fica com raiva sozinho, porque agora você não tem mais o problema.
Muitas vezes eu tenho esse atraso na descoberta da minha situação atual. É o que a senhora Fisher, do ínicio dessa postagem, chama de a mudança do mar. Eu estava no meio de uma mudança do mar, e levei um tempo pra perceber que, por mais que estivesse com raiva de um problema que nem existe mais, minha vida está bem melhor agora.
Sempre chega o dia em que eu trato meus problemas do passado como o que eles realmente são, me referindo a eles como coisas que aconteceram a muito tempo atrás, e que parecem ter acontecido com uma outra pessoa.
O resto, é silêncio. Silêncio e tempo.

sábado, 15 de setembro de 2012

Tentação

Sem querer soar muito cruel, há duas semanas atrás eu li uma postagem no blog do fantástico Julien Smith com o título The Complete Guide to Not Giving a Fuck (O guia completo para não dar a mínima), e eu aprendi algumas coisas, e desenvolvi algumas idéias próprias.
Uma coisa que eu aprendi é que, de fato, 99% das pessoas que você vê não dão a mínima para a sua existência e isso, ao contrário do que possa parecer, é uma coisa boa. O que eu tirei disso é que eu posso me contentar sumariamente em ser desnecessário.
E, com essa idéia poderosamente terrível na cabeça, eu me pus a falar sozinho coisas do tipo "Quer saber, eu já estou bem grandinho pra me apegar a isso, isso e aquilo." E a lama do pântano em que eu tenho andado por tantos anos foi aos poucos deixando meu corpo - de cara limpa, fui me secar ao sol. Ninguém realmente liga para as coisas que você faz, ou deixa de fazer.
Tenho um livro sendo publicado, outro pra escrever e um mestrado a terminar. Isso é tudo que eu preciso agora.


Link para a famigerada postagem:
http://inoveryourhead.net/the-complete-guide-to-not-giving-a-fuck/

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Hibernação


Dia seis desse mês fizeram 5 anos desde a morte do Weaver. Normalmente, no aniversário da morte dele, eu tiro o dia pra pensar no que eu fiz até agora, se tenho vivido dentro das espectativas dele, ou feito justiça à sua memória. Ele sempre me dizia que era minha responsabilidade viver por nós dois, e que a minha vida era a que ele queria ter, era a que ele teria.
Passei quase um mês em hibernação - falando pouco, longe de tudo, aproveitando meu tempo livre pra não escrever nada, não desenhar nada, não fazer nada. Acordava sempre meio-dia, e ia dormir às 4 da manhã, como nos velhos tempos.
Em um desses dias, sem fazer nada, fui à Biblioteca da UFV, aqui em Vice City, pra ler qualquer coisa antiga, sei lá, buscar inspiração no trabalho de gigantes. E com o livro do Rubem Alves, Filosofia da Ciência, debaixo do braço, fui me acomodar em uma das mesas da sala de estudos.
E eu vi, então, aquela moça tirando o meu amado "Terra dos Homens" do Exupéry da bolsa, e fiquei pensando se não era disso que eu estava precisando: alguém para conversar sobre as coisas, alguém que me entendesse completamente, alguém que gostasse, de fato, das mesmas coisas que eu. Mas, então, lembrei de uma limitação da qual já havia sido avisado: "Se você estivesse com alguém agora, esqueceria essa história de escrever livro, pararia de passar as noites acordado, escrevendo as coisas, e começaria a viver durante o dia, como todas as pessoas normais. Se estivesse com alguém agora, jamais estaria fazendo aquilo que está fazendo nesse momento.". Eu me levantei e fui andando de volta ao Departamento de Física, para longe de onde a mulher perfeita estava sentada.
O objetivo de todo mundo é a felicidade, certo? Errado! Se eu me enganar em uma busca cega pela felicidade, eu perco aquilo que, no fundo no fundo, me faz uma pessoa melhor. Eu tenho que criar um mundo onde uma amiga possa criar seus filhos, e isso, de maneira estranha, me aproxima das pessoas.
É isso o que eu digo pra mim mesmo, mesmo que eu não esteja enganando a mais ninguém. Todos sabem que a verdade é que eu estou me afastando, deixando tudo pra trás.

domingo, 8 de julho de 2012

Ausência

Os ventos frios, dessa vez, chegaram de verdade à Vice City.
Enquanto fazia a última prova do período (sim, ainda as faço), um pôr-do-sol laranja me fez lembrar de pegar mais uma blusa.
E esse foi um Domingo como nos velhos tempos. Vinte e quatro horas sem ver um rosto amigo, passeando entre as multidões da Semana do Fazendeiro, no meio da baderna. Me lembrei de o quanto eu gostava desse tipo de coisa: absolutamente ninguém no planeta sabe do seu paradeiro, e confiando na velocidade com que más notícias se espalham, você pode continuar assim.
Na terça-feira da mesma semana, ano passado, eu me lembro de estar com a Leila andando nas barraquinhas, comendo um churros de doce de leite e me lambuzando todo, enquanto discutíamos um dos meus maiores defeitos: meu pavor de monte de gente. Dificilmente eu me submetia a esse tipo de situação, só em ocasiões especiais; e quem não sabia desse meu problema, nem notava a diferença. Para eles, eu estava fazendo algo normal, sem problemas, mas aquela moça percebia o quanto eu estava fora da minha zona de conforto, e essa semana me serviu, de certa forma, como maneira de lidar com a ausência dela. Foi, pra dizer a verdade, a primeira vez que eu notei essa ausência. No final das contas, só quem percebe meus sacrifícios os valoriza. Talvez eu não vá navegar em meio às pessoas, nunca mais. Pra mim vai ser fácil fugir de todos os motivos pra isso, de agora em diante.
Mas eu sei lá. Talvez eu esteja querendo demais algo que eu não preciso.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

A Arte de Lidar com a Partida

Há pouco tempo a avó de minhas primas se foi. Fiquei sabendo, na verdade, alguns dias depois.
Eu aposto que todo mundo conhece a sensação de impotência de ter que consolar alguém, quando não há maneira de se resolver o problema que se começou tudo. Sempre que eu sentia essa sensação, há tempos, eu me lembrava do Weaver - aquele moleque de quinze anos que me fez pensar em coisas que nunca tinha pensado antes. E ele, como não podia deixar de ser, me fez pensar na morte, afinal, ele mesmo sabia o que estava por vir.
O que ele me disse foi o seguinte: "Você ficaria triste por alguém que se aposentou e foi morar no Havaí?". Tudo o que você perde quando alguém se vai é a presença. Se você pensa por alguns instantes e põe tudo na balança, o importante fica aqui com você: as lembranças, as lições ensinadas pela vida vivida juntos.
Enfim, alguma coisa me disse, às sete da manhã, que eu tinha que telefonar pra elas. Mas daí eu pensei: o que eu posso dizer? Diria que sentia muito? Não seria verdade, não quando você é do tipo de pessoa que não acredita em luto, e que prefere acreditar que quem se foi, é porque está melhor assim. Diria que estarei disponível para o que elas precisarem? Também seria mentira. Eu não estava lá dessa vez, e não estarei em muitas outras no futuro. De fato, cada vez mais. Diria que podem contar com a ajuda que eu puder dar? Elas já sabem disso.
Eu preferi o silêncio. Deixar as coisas passarem e a tristeza do luto recente se tranformar na alegria da verdade: ninguém morre enquanto você se lembra.
Minhas primas um dia vão se lembrar disso. Foi Weaver quem me ensinou, do jeito difícil. Do único jeito que se pode aprender.

terça-feira, 19 de junho de 2012

A Ordem das Coisas

Estive conversando com uma prima minha, há alguns dias, sobre o quanto ir esquecendo determinadas pessoas torna-se um processo inteiramente natural. Não é por crueldade. Essas coisas acontecem quando, à medida que o tempo passa, o destino nos leva a seguir caminhos diferentes, seja pela distância geográfica ou mesmo pelo distanciamento de interesses que, em um tempo que já se vai, eram os mesmos.
Soube que quatro pessoas iriam se casar, mas não conheço um dos maridos. Fingi surpresa para duas delas, e as outras duas realmente me surpreenderam. A segunda noiva vivia me dizendo que um dia nós íamos decidir quem iria ter filhos e quem ia criar o mundo onde eles cresceriam. Ao que parece, para mim, coube a segunda tarefa.
E assim minha vida segue, algumas responsabilidades maiores, as responsabilidades menores de sempre, e o meio de ano me vem com uma nova esperança, uma nova conquista a celebrar: finalmente sou dono de "A Síndrome do Gênio". Meu livro será publicado logo, e corrigindo uma coisinha aqui e ali, vou dando às palavras mal escritas o toque da obra final.
Tê-lo escrito, mais do que qualquer coisa, foi fazer as pazes com alguns aspectos do meu passado, e me fez reviver momentos de que já nem me lembrava. Estou finalmente em paz com algumas decisões que tomei, e acho que isso seja a melhor coisa que já fiz por mim mesmo.
Meu caminho agora se distancia do que era, eu eu vou, aos poucos, esquecendo a pessoa que começou a escrever nesse blog. É um processo inteiramente natural.

sábado, 26 de maio de 2012

Eu posso mudar?

Não via minha mãe haviam seis meses. Não que eu seja uma pessoa ligada à família, ou ligada à qualquer coisa. As únicas coisas com as quais eu sempre estive envolvido, desde que me entendo por gente, são os cadernos - sejam eles de exercícios ou de desenho.
Isso me rendeu, até certo ponto da minha vida, bons frutos: notas acima da média, a capacidade de compartilhar meus projetos, de dar vida a eles através das imagens que eu desenhava, tudo sem o maior esforço. Consegui, no percurso, até mesmo me formar em Física, o que, exatamente como dizem as más línguas, não é nada fácil.
Mas eu não sou bom com a vida. Eu não sou bom em ser pego no meio das complicações das outras pessoas, não sou bom em lidar com o que elas sentem (inclusive eu), e minha disponibilidade para meus amigos tem sido cada vez menor. Aos poucos, vou dando ao mundo a liberdade que ele merece, e a meu ver isso sempre foi resultado da minha própria personalidade. Mas, discutindo isso com minha mãe, me veio a idéia de perguntar: "Eu posso mudar?"
Serei eu capaz de largar minha inteligência de lado, com tudo o que ela já construiu, e me tornar uma pessoa normal e sociável como todas as outras? Se eu coloco na balança e percebo todos as coisas que eu perdi pra ter o que eu tenho, será que valeu a pena? Qual o peso de ser uma negação com relacionamentos, e um ás com todo o resto?
"Você não consegue."
Foi a primeira vez que eu desejei, do fundo do coração, que Weaver não tivesse morrido.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

L'Odisseia, Parte 2: Vigília

Continuando a narrativa dos acontecimentos da Ilíada, lá estava eu, no ônibus errado, mas a caminho de casa.
Penso eu que, às vezes, tudo o que você pode fazer para enfrentar um problema é não pensar muito nele, apenas deixar que por si só, a resposta apareça. Na maioria das vezes, não há nada mais que a gente possa fazer. Com esse pensamento eu estava ali sentado, com um problema.
Para que as pessoas que não conhecem o trecho, vou postar uma imagem aqui (Vice City é conhecida como Viçosa em alguns lugares):
Eu estava descendo, a caminho de Ubá, no ônibus errado, e já nem me lembrava disso. Já estava tomado por aquela velha sensação de retorno, de voltar aos amigos abandonados, de voltar da guerra.
Na altura de Visconde do Rio Branco, no entanto, eis o que se sucedeu: A caminho da rodoviária, o meu ônibus errado encontra o meu ônibus certo deixando a cidade. Numa rua de via dupla deveras estreita, os dois motoristas trocam dois minutos de conversa, atrapalhando o trânsito. Dois minutos a mais na Odisseia. Os dois se cruzam, e se vão. Me levanto da minha poltrona e vou ter com o motorista.
"Aquele era o meu ônibus, certo?"
Certo.
Aquele é o meu ônibus.
Uma vigília tinha se iniciado desde a minha partida. As rodoviárias de Vice City, Visconde do Rio Branco e Ubá, desde então, estavam inclinadas sobre minha poltrona como que sobre o leito de um doente. Um erro havia sido cometido, e a comunicação humana o haveria de reparar.
"O seu ônibus vai te esperar em Ubá. Acho que quinze minutos serão suficientes." Foi tudo o que eu ouvi do motorista, e foi feito.
O ônibus certo me esperou em Ubá, todos tinham sido avisados do meu pequeno engano. Já lá dentro, como se não bastasse toda a preocupação, toda a aventura que havia me guiado até lá, tudo o que o motorista ouviu do rapaz sentando na poltrona que deveria ser sua foi "...e você nem sentiu a minha falta."
O motor ligou, o ônibus certo saiu, e antes do almoço estava de volta à minha cidade natal, de volta aos amigos, no fim da Odisseia.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

L'Odisseia, Parte 1: Ilíada

Há alguns dias eu contei da minha involuntária maneira de me afastar do mundo e tentar provar uma teoria: O fato de alguém achar que eu sou bom nos tempos de chuva, mas péssimo nos tempos de Sol. Enfim, depois de algum tempo, retornei à minha rotina normal, e essa rotina envolvia, entre outras coisas, ir visitar meu pai na minha cidade natal.
Mas os deuses do destino não pareciam querer que eu retornasse. Entre eu deixar minha amada Vice City e chegar ao meu destino final em Rio Pomba, eis que uma pequena odisseia se sucedeu.
Era sábado de manhã, e contra tudo e contra todos, eu acordei cedo. Na minha passagem, estava marcado: Linha Ponte Nova/ Juiz de Fora, 9:45hs. Esse horário era estranho pra mim, que costumava pegar o ônibus das 19:40, na sexta-feira. Mas era aniversário do meu pai, era uma ocasião importante para eu voltar à vida normal.
9:40h da manhã lá estava eu na rodoviária, junto com algumas centenas de pessoas, na confusão que só o Terminal Rodoviário de Vice City pode proporcionar. Dez minutos depois, 9:50, um ônibus chega: Linha Ponte Nova/Juiz de Fora. Era, para todos fins, o meu. Me aproximo do auxiliar e fico sabendo que não era o meu - aquele ônibus era o de 9:47, e o 9:45 ainda estava a caminho. Volto para o banco onde estava sentado. O 9:47 já passou e o meu 9:45 ainda não havia chegado.
Doze minutos depois, chega outro ônibus da linha Ponte Nova/ Juiz de Fora, dessa vez o 9:45. Não haveria problema, não haveria estorvo, e eu subo no ônibus e sento na minha poltrona, como tinha feito pela última vez, noventa dias antes. Porém, com o motor já ligado, o auxiliar do 9:45 pergunta, lá da frente, se alguém estava indo para Rio Pomba. Como se tratava do meu destino, eu levantei o braço, sozinho na multidão. Eu era o único. O auxiliar, então, se aproxima da minha poltrona e diz, como se não houvesse remédio, que o 9:45 não chegaria a Rio Pomba, mas pararia duas cidades antes, em Ubá. O ônibus que eu deveria ter pegado era o 9:47.
Como não houvesse remédio, também, eu iria naquele ônibus até Ubá, e de lá, trocaria a minha passagem por uma até Rio Pomba, às 13:30 da tarde. Eu ficaria três horas a mais na estrada, e o meu reencontro com a vida estaria fatalmente atrasado. A odisseia estava começando.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Noventa Dias no Espaço

Quando alguém consegue descrever sua vida em uma frase, talvez haja algo de errado. Ninguém se imagina tão limitado na sua existência, mas muitas vezes alguém que está do lado de fora realmente consegue ver as coisas de maneira mais clara.
"Você é um farol. Quando as coisas vão mal as pessoas gostam de contar com você, e você está sempre ao lado delas. Mas quando a escuridão se vai e o sol aparece, você nunca está lá."
Com essa meia verdade nas mãos, eu não sabia até onde ela alcançava. O caso é que, desde que eu tinha ouvido isso, até algumas semanas atrás, tudo o que eu podia fazer era pensar sobre o assunto. Foi quando me apareceu a oportunidade de testar: alguns compromissos, e um belo de um acidente com óleo quente, fizeram de Vice City um exílio digno dos velhos tempos. Além da uma dúzia de pessoas que convive comigo diariamente, ligadas a mim por laços profissionais, fiquei noventa dias sem ver mais ninguém. Não visitei Belo Horizonte, não visitei Rio Pomba. Noventa dias de Vice City.
Nesses noventa dias, meu aniversário passou, um dos meus backups falhou e está me fazendo redigitar as 112 páginas do livro (a partir do pdf), e eu cuidei da minha vida, e só dela. Por três meses, o farol havia se apagado.
Nesse interim eu me lembrava de que quanto mais escuras as nuvens, mais forte eu sou, e pra onde eu olhava eu via céu azul. A felicidade, por algum tempo, me irritou. Eu descobri que tenho direito de me sentir um completo inútil em tempos de paz, e aos poucos eu deixei de me importar com isso: fui encontrando o lado bom de não ter que ajudar ninguém. Não era preciso ajudar ninguém e, por mais terrível que possa parecer, não me sentia mal por isso. Por isso eu voltei. Voltei e encontrei minha meia dúzia de pessoas importantes, de volta a alguns lugares, telefonando para outros.
E eu ouvia do outro lado da linha uma moça falando de boas lembranças vividas comigo, no tempo em que dividíamos o mesmo teto com uma família quebrada.
E eu via uma irmã brava por eu ainda não conseguir conciliar todos os aspectos da minha vida: há pessoas importantes em cada um deles que merecem o devido crédito, e há aquelas que simplesmente fazem um excelente trabalho em me manter vivo.
E eu sentia numa guria em meus braços o ódio por ter sentido saudade; em mim só ficou o sorriso magro de alguém que descobriu a falha na teoria. Dessa vez ela não precisava de mim, ninguém precisava de mim, mas eu estava lá.
Estou aprendendo a iluminar durante o dia.

segunda-feira, 26 de março de 2012

A minha Síndrome

Muitas pessoas (ou pelo menos algumas) têm notado a crescente falta de postagens esse ano. Grande parte disso se deve ao fato de eu estar gastando quase toda a minha criatividade na minha empreitada de terminar meu livro, "A Síndrome do Gênio". Dessa forma, decidi botar aqui um trecho dele, pra mostrar que eu não estou atoa, apenas colocando meus esforços em outra coisa, por enquanto. Aí vai:
"– Olha que casalzinho bonito... – diz Layla, com o cotovelo na mesa e a mão no queixo, olhando um menino e uma menina, com o uniform e da escola, voltando pra casa. – Tenho saudade dessa época de amor adolescente, sabe...
William olha pela janela, e vê o casal do qual Layla falava. Ainda com a boca cheia, sorri com os olhos. Depois de se desentalar com o café, resolve botar algum sal no soro caseiro de Layla:
– Eles não se amam... de onde você tirou isso?
– De onde eu tirei isso? De onde você tirou isso?
– Bom, pra começar, ele está abraçando o pescoço dela. – Layla olha novamente, e de fato ele estava. – Existem, em geral, quatro partes onde um cara pode abraçar uma mulher: pescoço, ombros, braço ou cintura. Cada um deles corresponde a uma atitude específica perante a pessoa que ele está abraçando.
Layla já estava apenas brincando de prestar atenção, mesmo assim William continua, agora gesticulando bastante:
– De baixo pra cima, cintura significa alguma chance de envolvimento, braço significa proteção, ombro significa igualdade, ou amizade, mas pescoço? – nessa parte ele faz questão de apontar para fora da lanchonete – Pescoço significa possessão. A coitada da menina ainda não deve ter percebido, mas é a forma mais desconfortável de se andar por aí com o namorado, perdendo apenas, por motivos óbvios, para o andar do mosquito.
– Andar do mosquito? – Layla agora resolve entrar na brincadeira, dado o tom de provocação de William nas últimas frases.
– Sabe, quando a menina anda na frente, e o cara vem abraçado por trás. Já tentou andar assim? É impossível.
A moça ri, percebendo que, de trás de William e longe do ângulo de visão dele, um casal tinha acabado de sair da escola usando o “andar do mosquito” que ele tinha acabado de descrever. Quando se apercebe disso, William olha pra trás e avista a cena. O riso de Layla dá trégua e se transforma em um sorriso simples e espontâneo. William se vira novamente.
– Você é incrível. – diz Layla, em meio a pequenos risos.
– Valeu. – responde William, tomando o último gole do café que ainda restava em sua xícara. Era hora de pegar a estrada novamente. Eles pagam a conta e voltam para o carro."

sábado, 10 de março de 2012

Mundo Noturno

Depois que as aulas recomeçaram, são raras as vezes em que não tenho acordado cedo, como qualquer pessoa normal, às sete da manhã. Meu horário normal não é esse. Eu vivo no horário do Pacífico, onde, pra quem mora no Brasil, as pessoas dormem às quatro da manhã e acordam ao meio dia. Há alguns dias, no entanto, aconteceu algo interessante, enquanto atravessava a famosa reta da UFV, indo para o meu amado Departamento de Física: as capivaras não tinham ido dormir ainda.
Se vocês se lembram, eu já falei delas antes (Ver "Martina") como minhas companheiras noturnas, de quando eu voltava pra casa de madrugada. Nesse dia, elas ainda perambulavam, em um grande grupo, em plena luz do dia, e de passagem eu via umas doze pessoas, paradas, olhando pra elas, algumas tirando fotos, fascinadas com aquela fauna viçosense, aparentemente desconhecida para elas. E eu, que as via todos os dias, pensei fazer parte de um mundo desconhecido. Se eu não fosse um ser humano, eu também seria um animal de zoológico, pois eu sou um animal noturno.
Mas agora estou de volta à rotina das pessoas normais, domesticado, mas ainda posso passar por Martina e companhia, e não achar graça, e não fotografar, e cumprimentar silenciosamente meu mundo noturno. Quando se trava uma guerra consigo mesmo, você sabe que, no final, vai ganhar alguma coisa, vai perder alguma coisa. Só não sabe quando ela vai terminar.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A Queima

Eu não tenho um quintal, aqui em Vice City. Em parte, isso é bom, pois não tenho que cuidar de um quintal, e em parte isso é ruim, pois um quintal possui muitas utilidades.
Não sei quantas pessoas além de mim têm essa mesma mania, mas eu costumo guardar coisas importantes em caixas. Em uma delas, posicionada cuidadosamente no meu quarto, eu guardei muitas coisas de uma vida antiga, de uma vida que não tenho mais, algumas relativas a projetos que já nem existem. O comprovante de pagamento da minha inscrição no vestibular pra Física, a minha primeira passagem comprada para o exílio em Vice City... no meio de uma pilha de coisas que, pra mim, não havia necessidade de guardar. Com o mesmo cuidado que aquela caixa foi colocada ali, eu a retirei. Retirei-a, e fui até o terreno baldio, em frente à minha casa, com uma caixa de fósforos no bolso. O Sol já se punha no horário de verão, e as chamas iluminariam a noite. A chama estava ali, fazendo de tudo o que tocava fragmentos que povoavam o ar acima dela, e o anoitecer demorava.
As últimas nuvens brancas se tornavam vermelhas, e daí cinzas, e a primeira estrela apareceu. Sob ela, a fogueira havia deixado só brasa, e em minhas mãos estava ainda a caixa, cheia das coisas que não pude destruir. Minhas lembranças, ainda que esquecidas, eram pra mim tão verdadeiras, e eu não queria me livrar daquela dor: eu precisava dela. Eu precisava me lembrar.
Com passos tímidos, sob o céu noturno, eu não retornaria sem a caixa.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Há 10 Anos

"Oito da noite e ainda é dia."
Quando eu finalmente me acostumar com o horário de verão, é porque ele vai acabar. Não sinto muito os efeitos dele nas manhãs, pois, como devem saber, não sou muito fã de ficar acordado de manhã, mas sei muito bem dos efeitos dele, à tarde.
Eu comecei a trabalhar muito cedo, ainda na minha cidade natal, mais ou menos aos treze anos. Em parte pelas exigências do meu pai, em parte pela necessidade de ter algo com que me ocupar, e em grande parte pelo desejo de aprender uma coisa nova. Foi assim, então, que comecei a trabalhar no mercado com meu tio. Acho que eu aprendi a lidar com as pessoas, e me comunicar bem com elas, nessa fase da minha vida. Naqueles quase cinco anos eu aprendi a me expressar, aprendi a ser claro e objetivo, e uma vez que muitas vezes não era um trabalho intelectualmente desafiador, grande parte das idéias que eu tenho até hoje vêm dessa época: Eu aproveitava meu tempo com as tarefas automáticas para inventar histórias.
Com o tempo, eu ia melhorando nos meus afazeres, e por volta das sete da noite, voltava pra casa pra fazer os deveres de casa (pelo menos os que eu não tinha feito na sala de aula), assistir um pouco de televisão, e dormir pra acordar cedo no outro dia.
Mas havia um tempo especial, naquela época: era o tempo do horário de verão. No horário de verão, quando eu voltava pra casa, às sete da noite, o Sol ainda estava no horizonte. Eu voltava correndo, então, pra subir no terraço da minha casa, pra ver ele se pondo. A única oportunidade que eu tinha de fazer isso era no horário de verão. Não era algo que eu esperava, no entanto. No meio do ano, eu nem lembrava desse detalhe, mas quando chegava as sete da tarde e eu via o sol brilhando na parte de cima das casas, eu sabia que ele me esperava, e dez minutos depois dele se pôr, eu voltava com meus afazeres, com meus aprazeres.
Essa parte de mim provavelmente se foi. Hoje em dia eu posso ver o pôr-do-sol sempre, só de olhar pra fora da janela do Departamento de Física. Acho que talvez isso tenha contribuído para que eu não dê tanto valor quanto dava naquela época.
As coisas são assim, espetaculares em sua raridade.