Estou sumido, eu sei. Trataremos disso depois. Enquanto isso, segue um trechinho de "A Barca", meu não-tão-novo projeto. Aproveitem:
"De volta ao seu apartamento, Layla começa a fazer as malas.
Hora de deixar o vestido azul de lado e usar algo que realmente achava
confortável: camisa de malha, um casaco leve, calças jeans e tênis. Enquanto o
elevador cobre os cinco andares, de volta ao térreo, Layla tentava novamente se
localizar: estava viajando para São Paulo, para uma base da FAB, porque um
rapaz que não via há muito tempo precisava da sua ajuda.
Ela olha de relance o chuveiro, talvez tomasse um banho
quando chegasse lá. Agora não havia tempo. Mochila nos ombros, porta afora, e
de volta aos homens que a esperavam na calçada, do lado de fora.
William abre a porta do carro para Layla, que encontra seu
conforto no banco de trás, e ele se senta ao lado dela. O motorista, militar,
segue a caminho do aeroporto de Confins.
– Enquanto a gente te esperava, um amigo seu passou em
frente ao seu apartamento e reconheceu a gente, da festa de ontem. Um tal de
Henrique. Perguntou por você.
– E o que você disse?
– Que você ia viajar por uns dias. Legal você ter um amigo
gay.
– Ele não é gay.
– Ah, fala sério.
– É sério, a gente conversou na festa ontem...
– Quem apresentou vocês?
– O tio dele. – e depois de pensar um pouco, – Ah,
entendi...
– Não se preocupe, eu só deduzi por causa do puddle com o
qual ele estava passeando. Ele sabia o nome do cachorro.
O oficial havia percebido, àquela altura, que William
Lourenço não era uma pessoa normal. Diante da liberdade que o rapaz
apresentava, resolve afrouxar um pouco a sua farda e ter uma conversa menos
formal com seus passageiros:
– Já reparou que quase toda mulher tem um amigo homossexual?
– Claro. É o melhor tipo de amigo pra uma mulher. Quer
dizer, considere as outras opções: com um amigo hetero, ela nunca sabe quando
ele vai estragar tudo dizendo que a ama, ou a namorada histérica dele vai
começar a relacionar o tempo que eles passam juntos com o fato dela ser um
animal de fazenda. Com amiga mulher, ou a amiga é mais bonita, onde o problema
é óbvio, ou é mais feia, onde o risco de vê-la reclamar da vida e fazer
beicinho é grande, sem contar o fato de que a amizade feminina é competitiva
por natureza. Gays não têm esse problema, eles pensam como uma mulher, eles entendem
de moda, e na balada eles podem até querer o mesmo que a menina, mas não há a
competição direta. Ela quer heteros, ele, gays. O mundo deles é mais simples
que o nosso.
Layla apenas sorri, desviando o olhar para o mundo lá fora,
e se lembrando de que essa era a magia de William Lourenço, o rapaz capaz de
analisar o mundo ao seu redor.
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