sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O Inverno

Fez frio quase todo dia.
Durante seis meses, as blusas saíram do armário. Durante seis meses, o Sol insistia em não aparecer. Nesse inverno eu perdi a noção dos dias. Não sabia se era segunda feira, se já era o fim do mês, se já eram três da tarde... Meu relógio biológico funcionava em um ciclo de trinta horas: vinte acordado, dez dormindo. Isso significava que, em algumas ocasiões, eu ia dormir às quatro da tarde, e acordava às seis da manhã.
Num desses dias eu acordei às seis, fiz café, e ninguém na minha casa tinha acordado. Ninguém existia na minha casa. Eu abri a porta da frente, sentei no banco da varanda, e entre as árvores do outro lado da rua, vi o Sol nascendo, devagar, como há muito tempo não fazia. E uma música começou a tocar na minha cabeça, uma que dizia "o exílio tomou conta da sua cabeça, novamente.". Com a caneca de café na mão, sentado num banco, no mês de agosto.
Eu sabia, naquele dia, que algo precisava mudar. Estar sozinho parou de me fazer bem, e começou a me fazer mal. A sorte dos tolos que me enviou para o exílio tinha acabado. Com um telefonema, com uma passagem de ônibus, com uma mochila nas costas, o exílio acabou. Só voltei lá pra buscar o resto das coisas.
A caneca suja de café ficou na pia.

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